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Um Grito De Honra
Morgan Rice


Anel Do Feiticeiro #4
Em UM GRITO DE HONRA (Livro #4 da Série: O Anel do Feiticeiro), Thor voltou da Centena como um guerreiro aguerrido e agora ele deve aprender o que significa lutar por sua terra natal, batalhar para viver ou morrer. Os McClouds penetraram profundamente no território dos MacGil invadindo-o como nunca antes na história do Anel. Ao mesmo tempo em que Thor cavalga direto para uma emboscada, recairá sobre sua cabeça repelir o ataque e salvar Corte do Rei. Godfrey foi envenenado por seu irmão com um veneno muito raro e potente e seu destino está nas mãos de Gwendolyn. Ela fará tudo o que for possível para salvar seu irmão da morte. Gareth caiu em um estado de paranóia e descontentamento cada vez mais profundo, ele contrata sua própria tribo de selvagens como força de combate pessoal concedendo-lhes as honras do Exército Prata. Ele expulsa o Exército Prata, causando uma divisão na Corte do Rei, a qual ameaça explodir em uma guerra civil. Ele também conspira para que os ferozes Nevaruns levem Gwendolyn para longe, negociando a mão dela em casamento sem o seu consentimento. As amizades de Thor se aprofundam enquanto viajam para novos lugares, enfrentam monstros inesperados e lutam lado a lado em uma batalha inimaginável. Thor viaja para sua cidade natal e em um confronto épico com seu pai, ele descobre um grande segredo de seu passado: quem ele é, quem é sua mãe e.. qual é seu destino.





Morgan Rice

UM GRITO DE HONRA LIVRO #4 DA SÉRIE: O ANEL DO FEITICEIRO




Sobre Morgan Rice

Morgan Rice é a autora do best-seller #1 DIÁRIOS DE VAMPIROS, uma série destinada a jovens adultos composta por onze livros (mais em progresso); da série de Best-seller #1 – TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico que compreende dois livros (outro será adicionado); a série número um de vendas, O ANEL DO FEITICEIRO, composta por treze livros de fantasia épica (outros serão acrescentados).



Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e página impressa e suas traduções estão disponíveis em: alemão, francês, italiano, espanhol, português, japonês, chinês, sueco, holandês, turco, húngaro, checo e eslovaco (em breve estarão disponíveis em mais idiomas).



Morgan apreciará muitíssimo seus comentários, por favor, fique à vontade para visitar www.morganricebooks.com (http://www.morganricebooks.com/) faça parte de nosso newsletter, receba um livro gratuito, ganhe brindes, baixe nosso aplicativo gratuito, obtenha as novidades exclusivas em primeira mão, conecte-se ao Facebook e Twitter, permaneça em contato!



CrГ­tica aclamada sobre Morgan Rice

“O ANEL DO FEITICEIRO reúne todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: tramas, intrigas, mistério, bravos cavaleiros e florescentes relacionamentos repletos de corações partidos, decepções e traições. O livro manterá o leitor entretido por horas e agradará a pessoas de todas as idades. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia.”

–-Books and Movie Reviews, Roberto Mattos.



“Rice faz um trabalho magnífico ao atrair você para a história desde o início, utilizando uma grande qualidade descritiva que transcende a mera imagem do cenário… Muito bem escrito e de uma leitura extremamente rápida.”

–-Black Lagoon Reviews (referindo-se a Turned)



“Uma história ideal para jovens leitores. Morgan Rice fez um bom trabalho, dando uma interessante reviravolta na trama… Refrescante e original. As séries giram em torno de uma garota… Uma jovem extraordinária!… Fácil de ler, mas com um ritmo de leitura extremamente acelerado… Classificação10 pelo MJ/DEJUS.”

–-The Romance Reviews (referindo-se a Turned)



“Captou a minha atenção desde o início e eu não pude soltá-lo… Esta é uma história de aventura incrível que combina agilidade e ação desde o início. Você não encontrará nela nenhum momento maçante.”

–-Paranormal Romance Guild (referindo-se a Turned)



“Carregado de ação, romance, aventura e suspense. Ponha suas mãos nele e apaixone-se novamente.”

–-Vampirebooksite.com (referindo-se a Turned)



“Uma ótima trama, este é especialmente o tipo de livro que lhe dará trabalho soltar à noite. O final é tão intrigante e espetacular que fará com que você queira comprar imediatamente o livro seguinte, só para ver o que acontecerá.”

–-The Dallas Examiner (referindo-se a Loved)



“Um livro que é um rival digno de CREPÚSCULO (TWILIGHT) e AS CRÔNICAS VAMPIRESCAS (VAMPIRE DIARIES) e que fará com que você deseje continuar lendo sem parar até a última página! Se você curte aventura, amor e vampiros este é o livro ideal para você!”

–-Vampirebooksite.com (referindo-se a Turned)



“Morgan Rice mais uma vez mostra ser uma narradora extremamente talentosa… Esta narrativa atrairá uma grande variedade de público, incluindo os fãs mais jovens do gênero vampiro/fantasia. Terminou com uma situação de suspense tão inesperada que o deixará chocado.”

–-The Romance Reviews (referindo-se a Loved)



Livros de Morgan Rice




O ANEL DO FEITICEIRO


EM BUSCA DE HERГ“IS (Livro #1)


UMA MARCHA DE REIS (Livro #2)


UM DESTINO DE DRAGГ•ES (Livro #3)


UM GRITO DE HONRA (Livro #4)


UM VOTO DE GLГ“RIA (Livro #5)


UMA CARGA DE VALOR (Livro #6)


UM RITO DE ESPADAS (Livro #7)


UM ESCUDO DE ARMAS (Livro #8)


UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro #9)


UM MAR DE ESCUDOS (Livro #10)


UM REINADO DE AÇO (Livro #11)


UMA TERRA DE FOGO (Livro #12)


UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro #13)




TRILOGIA DE SOBREVIVГЉNCIA


ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro #1)


ARENA DOIS (Livro #2)




DIГЃRIOS DE UM VAMPIRO


TRANSFORMADA (Livro #1)


AMADA (Livro #2)


TRAГЌDA (Livro #3)


DESTINADA (Livro #4)


DESEJADA (Livro #5)


PROMETIDA EM CASAMENTO (Livro #6)


JURADA (Livro #7)


ENCONTRADA (Livro #8)


RESSUSCITADA (Livro #9)


SUPLICADA (Livro #10)


DESTINADA (Livro #11)












Ouça (http://www.amazon.com/Quest-Heroes-Book-Sorcerers-Ring/dp/B00F9VJRXG/ref=la_B004KYW5SW_1_13_title_0_main?s=books&ie=UTF8&qid=1379619328&sr=1-13) a série O ANEL DO FEITICEIRO em formato audiobook!




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iTunes (https://itunes.apple.com/us/audiobook/quest-heroes-book-1-in-sorcerers/id710447409)


Copyright В© Morgan Rice 2013

Todos os direitos reservados. Exceto os permitidos, sujeitos à Lei de direitos autorais dos Estados Unidos de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida; distribuída; ou transmitida, em qualquer forma ou por qualquer meio; ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem a prévia autorização da autora.

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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes ou são o produto da imaginação da autora ou são utilizados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência.

A imagem de capa é de RazoomGame e usada sob licença da Shutterstock.com.


“Não tenha medo da grandeza:
alguns nascem grandes,
alguns alcançam a grandeza e
Alguns têm a grandeza imposta a eles.”

    —William Shakespeare
В В В В Noite de Reis






CAPГЌTULO UM


Luanda precipitou-se pelo campo de batalha, mal conseguindo esquivar um cavalo a galope, enquanto ela traçava seu caminho em direção à pequena moradia em que se encontrava o Rei McCloud. Ela agarrava a fria estaca de ferro na mão e tremia enquanto cruzava as terras poeirentas da cidade que uma vez ela havia conhecido, a cidade de seu povo. Ela tinha sido forçada durante todos aqueles meses a testemunhar os massacres que sua gente havia sofrido e já não aguentava mais. Algo dentro dela explodiu. Ela já não se importava se estava indo contra todo o exército McCloud, ela faria tudo o que estivesse ao seu alcance para detê-lo.

Luanda sabia que o que estava prestes a fazer era uma loucura, ela estava tomando sua vida em suas mГЈos e McCloud provavelmente a mataria. Mas ela afastou esses pensamentos de sua mente enquanto corria. Tinha chegado o momento de fazer o que era correto, a qualquer custo.

Ela avistou McCloud Г  distГўncia, do outro lado do campo de batalha lotado, no meio dos soldados. Ele estava carregando aquela pobre garota em meio aos seus gritos, para uma casa, uma casinha de barro abandonada. Ele bateu a porta atrГЎs de si, levantando uma nuvem de poeira.

“Luanda!” Alguém gritou.

Ela virou-se e viu Bronson, talvez a uma centena de metros atrás, correndo atrás dela. Seu avanço foi interrompido pelo fluxo interminável de cavalos e soldados que o forçaram a parar várias vezes.

Agora era sua chance. Se Bronson a alcançasse, ele iria impedi-la de ir até o fim.

Luanda dobrou sua velocidade, segurando a estaca firmemente e tentou nГЈo pensar na loucura que era tudo aquilo, em como suas chances eram mГ­nimas. Se exГ©rcitos inteiros nГЈo podiam derrubar McCloud, se seus prГіprios generais e seu prГіprio filho tremiam diante dele, que chance ela poderia realmente ter sozinha?

AlГ©m disso, Luanda nunca tinha matado um homem antes e muito menos um homem da estatura de McCloud. SerГЎ que ela ficaria paralisada quando chegasse a hora? SerГЎ que ela realmente poderia chegar atГ© ele sem ser notada? Seria ele tГЈo inacessГ­vel como Bronson tinha lhe advertido?

Luanda se sentia implicada no derramamento de sangue daquele exГ©rcito, na ruГ­na de sua prГіpria terra. Ao olhar para trГЎs no tempo, ela lamentava ter concordado em se casar com um McCloud, apesar de seu amor por Bronson. Ela tinha aprendido que os McClouds eram um povo selvagem, incorrigГ­vel. Os MacGils tinham tido a sorte de estar divididos pelas Highlands e ter permanecido do seu lado do Anel. Somente agora Luanda era capaz de perceber isso. Ela tinha sido ingГЄnua, tinha sido estГєpida ao supor que os McClouds nГЈo eram tГЈo ruins quanto ela tinha sido induzida a pensar. Ela pensava que poderia mudГЎ-los, que de alguma forma valeria a pena ter a chance de ser uma princesa McCloud e um dia ser rainha, qualquer que fossem os riscos.

Mas agora ela sabia que estava errada. Ela renunciaria a tudo, desistiria de seu título, de suas riquezas, de sua fama, de tudo enfim, em troca de nunca ter conhecido os McClouds, em troca de poder estar de volta em segurança, com a sua família, do seu lado do Anel. Ela estava com raiva de seu pai agora por ele ter arranjado aquele casamento; ela era jovem e ingênua, mas seu pai deveria saber muito bem como eram as coisas. Era a política tão importante para ele, para que ele sacrificasse sua própria filha? Ela também estava desgostosa com ele por ele ter morrido e tê-la deixado sozinha com tudo aquilo.

Luanda tinha aprendido da maneira mais difГ­cil, nos Гєltimos meses, a depender de si mesma e agora era a sua chance de fazer o que era correto.

Ela tremia quando chegou à pequena casa de barro, com sua porta de carvalho escura, totalmente fechada. Ela se virou e olhou para os lados esperando que os homens de McCloud se lançassem sobre ela; mas para seu alívio, todos estavam muito preocupados com os estragos que estavam causando, como para que pudessem notá-la.

Ela segurava a estaca com uma das mãos e com a outra mão ela agarrou a maçaneta e girou-a tão cuidadosamente quanto podia, rezando para não alertar McCloud.

Ela entrou na casa. Estava escuro ali e seus olhos foram ajustando-se lentamente, jГЎ que ela havia estado sob a forte luz do sol que iluminava a cidade branca; tambГ©m estava mais frio ali dentro. Quando ela cruzou o umbral da pequena casa, a primeira coisa que ela ouviu foram os gemidos e gritos da jovem. Quando seus olhos se adaptaram ela olhou ao redor da casa e viu McCloud despido da cintura para baixo, no chГЈo, sobre a jovem nua que lutava debaixo dele. A garota chorava e gritava com os olhos apertados, McCloud estendeu a mГЈo e cobriu a boca da jovem com a palma da sua mГЈo corpulenta, tentando abafar os gritos dela.

Luanda mal podia acreditar que aquilo era real, que ela realmente estava presenciando aquela cena. Ela deu um passo hesitante para a frente, suas mãos tremiam, seus joelhos estavam fracos e ela rezou para que ela tivesse forças para prosseguir com seu plano. Ela agarrou a estaca de ferro como se ela fosse sua tábua de salvação.

Por favor, Senhor, deixe-me matar este homem.

Ela ouviu McCloud grunhindo e gemendo como um animal selvagem, ao satisfazer-se. Ele era implacГЎvel. Os gritos da jovem pareciam amplificar-se com cada movimento dele.

Luanda deu mais um passo, depois outro e estava a poucos metros de distГўncia. Ela olhou para McCloud e estudou seu corpo tentando decidir o melhor ponto para atacar. Felizmente ele tinha retirado sua cota de malha e usava apenas uma camisa de tecido fino, a qual agora estava encharcada de suor. Luanda podia sentir o cheiro dele mesmo de onde ela estava e ela recuou. Retirar a armadura foi um movimento descuidado da parte dele, Luanda concluiu que aquele seria o seu Гєltimo erro. Ela iria levantar a estaca bem alto, com ambas as mГЈos e mergulhГЎ-la em suas costas expostas.

Quando os gemidos de McCloud atingiram o seu clímax, Luanda levantou a estaca bem alto. Ela pensou em como sua vida mudaria após aquele momento, como em apenas alguns segundos, nada jamais seria o mesmo. O reino McCloud estaria livre de seu rei tirano; seu povo seria poupado de mais destruição; seu jovem marido iria subir e tomar o seu lugar e, finalmente, tudo estaria bem.

Luanda ficou ali, paralisada de medo. Ela tremia. Se ela nГЈo atuasse imediatamente, ela jamais conseguiria.

Ela prendeu a respiração, deu um passo final para a frente, levantou a estaca bem alto com as duas mãos sobre sua cabeça, e de repente, caiu de joelhos descendo a estaca com todas as suas forças, preparando-se para mergulhá-la nas costas do homem.

Mas aconteceu algo que ela nГЈo esperava e tudo aconteceu de maneira confusa, rГЎpido demais para que ela reagisse: no Гєltimo segundo McCloud rolou para fora do seu alcance. Para um homem com a sua massa muscular, ele era muito mais rГЎpido do que ela poderia imaginar. Ele rolou para o lado deixando a jovem debaixo dele exposta. Era tarde demais para que Luanda pudesse deter-se.

A estaca de ferro, para o horror de Luanda, continuou sua trajetГіria mergulhando profundamente no peito da jovem.

A moça deu um grito e sentou-se ereta, Luanda ficou mortificada ao sentir quando a estaca perfurou a carne da jovem penetrando por vários centímetros de profundidade, todo o caminho até o seu coração. O sangue borbulhava de sua boca e ela olhava para Luanda, apavorada, sentindo-se traída.

Finalmente, ela caiu deitada, morta.

Luanda ajoelhou-se ali, entorpecida, traumatizada, dificilmente ela poderia entender o que tinha acontecido. Antes que ela pudesse processar tudo aquilo, antes que ela pudesse perceber que McCloud estava a salvo, ela sentiu um golpe pungente em um lado de seu rosto e logo se encontrou caГ­da no chГЈo.

Quando subiu pelos ares, Luanda estava vagamente consciente de que McCloud tinha acabado de dar um soco nela, um tremendo golpe que a havia feito voar. De fato, ele tinha antecipado cada movimento dela desde que ela tinha entrado no quarto. Ele fingiu ignorar a presença dela. Ele esperou o momento exato, esperou a oportunidade perfeita para não só evitar o golpe, mas também para enganar Luanda e fazê-la matar a pobre moça, colocando ao mesmo tempo a culpa disso na consciência dela.

Antes que seu mundo desvanecesse, Luanda teve um vislumbre do rosto de McCloud. Ele estava sorrindo de orelha a orelha, respirando com dificuldade, como um animal selvagem. A Гєltima coisa que ela ouviu, antes que sua bota gigante levantasse e descesse para o rosto dela foi a sua voz gutural, derramando-se como um animal:

“Você me fez um favor.” Disse ele. “Eu já havia terminado com ela, de todas maneiras.”




CAPГЌTULO DOIS


Gwendolyn descia as ruas laterais e sinuosas da pior parte da Corte do Rei, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto ela saía correndo do castelo, tentando chegar o mais longe possível de Gareth. Seu coração ainda batia em disparada desde seu confronto com ele, desde que ela tinha visto Firth enforcado e desde que ela tinha ouvido as ameaças de Gareth. Ela tentou desesperadamente extrair a verdade de suas mentiras. Mas na mente doentia de Gareth, a verdade e a mentira estavam distorcidas, era tão difícil saber o que era real. Será que ele estava apenas tentado assustá-la? Ou será que tudo o que ele tinha dito era verdade?

Gwendolyn tinha visto com seus prГіprios olhos o corpo de Firth pendurado e isso lhe dizia que talvez, dessa vez, tudo fosse verdade. Talvez Godfrey tivesse sido realmente envenenado; talvez ela realmente tivesse sido negociada em casamento aos Nevaruns selvagens; talvez, naquele exato momento, Thor estivesse cavalgando direto para uma emboscada. Esse pensamento a fez estremecer.

Ela se sentia impotente enquanto corria. Ela tinha de chegar a alguma parte. Ela nГЈo podia percorrer todo o caminho atГ© chegar a Thor, mas ela podia correr atГ© Godfrey para ver se ele tinha sido envenenado e se ainda estava vivo.

Gwendolyn corria, metendo-se cada vez mais na parte decadente da cidade. Ela estava surpresa por encontrar-se de volta ali novamente, duas vezes em dois dias, naquela parte nojenta da Corte do Rei a qual ela tinha jurado nunca mais voltar. Se Godfrey tinha realmente sido envenenado, ela sabia que isso deveria ter acontecido na taverna. Onde mais poderia ser? Ela estava brava com ele por ele ter retornado ali, por ter baixado a guarda, por ele ser tão descuidado. Mas acima de tudo, ela temia por ele. Ela percebeu o quanto tinha chegado a querer seu irmão durante aqueles últimos dias e o pensamento de perdê-lo também, especialmente depois de ter perdido seu pai, deixou um vazio em seu coração. Ela também se sentia de alguma forma, responsável pelo que havia sucedido.

Gwen sentia um temor real enquanto corria por aquelas ruas e não era por causa dos bêbados e de todos os cretinos ao seu redor; em vez disso, ela temia por seu irmão, Gareth. Seu aspecto durante o seu último encontro era demoníaco, ela não conseguia tirar de sua mente a imagem do rosto dele, a imagem de seus olhos, tão sinistros, tão desalmados. Ele parecia possuído. O fato de que ele estava sentado no trono de seu pai tornava a imagem ainda mais surreal. Ela temia sua retaliação. Talvez ele estivesse, de fato, conspirando para casá-la, algo que ela nunca permitiria; ou talvez ele só quisesse que ela baixasse a guarda e estava realmente planejando assassiná-la. Gwen olhou em volta e enquanto ela corria, cada rosto lhe parecia hostil, estranho. Todos pareciam ser uma ameaça potencial, enviada por Gareth para acabar com ela. Ela estava ficando paranóica.

Gwen virou a esquina e esbarrou em um velho bêbado que quase a fez perder o equilíbrio. Ela pulou e gritou involuntariamente. Ela estava com os nervos à flor da pele. Ela levou um momento para perceber que era apenas um transeunte descuidado e não um dos matadores de aluguel de Gareth. Ela se virou e o viu tropeçar, sem nem mesmo se voltar para pedir desculpas. A indignidade daquela parte da cidade era maior do que ela podia tolerar. Se não fosse por Godfrey ela nunca chegaria perto dali. Ela o odiava por fazê-la rebaixar-se a isso. Por que ele não podia, simplesmente ficar longe das tavernas?

Gwen virou outra esquina e ali estava: a taverna favorita de Godfrey, um projeto de estabelecimento, localizada ali, torta, sua porta entreaberta, bГЄbados jorravam dela, tal como faziam perpetuamente. Ela nГЈo perdeu tempo e entrou apressadamente pela porta aberta.

Seus olhos demoraram um momento para ajustar-se à penumbra do bar que cheirava a cerveja rançosa e suor. Quando ela entrou ali, o local ficou silencioso. Havia aproximadamente vinte homens amontoados ali dentro, todos eles se viraram e olharam para ela surpresos. Ali estava ela, um membro da família real, vestida com elegância, avançando por aquela sala, a qual provavelmente não tinha sido limpa há décadas.

Ela caminhou atГ© um homem alto com uma barriga enorme, a quem ela reconheceu como Akorth, um dos companheiros de bebedeiras de Godfrey.

“Onde está meu irmão?” Ela perguntou autoritária.

Akorth, geralmente de bom humor e sempre pronto para soltar uma piada de mau gosto, com a qual ele se sentia muito satisfeito, a surpreendeu: ele simplesmente balançou a cabeça.

“Ele não está indo muito bem.” Ele disse pesaroso.

“O que você quer dizer?” Ela insistiu, seu coração bateu acelerado.

“Ele tomou uma cerveja estragada.” Disse um homem alto, magro, a quem ela reconheceu como Fulton, o outro companheiro de Godfrey. “Ele passou mal na noite passada. Ainda não se levantou.”

“Ele está vivo?” Ela perguntou desesperada, agarrando o pulso de Akorth.

“Com muito custo.” Ele respondeu, olhando para o chão. “Ele tem passado muito mal. Ele parou de falar cerca de uma hora atrás.”

“Onde ele está?” Ela insistiu.

“Na parte de trás, patroa.” Disse o taverneiro, inclinando-se sobre o bar enquanto limpava uma caneca, parecendo estar realmente triste. “É melhor que tenha um plano para lidar com ele. Eu não desejo abrigar um cadáver aqui no meu estabelecimento.”

Gwen, atordoada e ao mesmo tempo surpresa, sacou um pequeno punhal, inclinou-se para a frente e dirigiu a ponta dele para a garganta do taverneiro.

Ele engoliu seco e a olhava em estado de choque, enquanto o lugar caiu em um silГЄncio mortal.

“Primeiro que tudo…” Ela disse. “… Este lugar não é um estabelecimento– é um arremedo de um boteco, e um que eu vou mandar a guarda real demolir, se você falar comigo desse jeito novamente. E é bom que você comece a se dirigir a mim como Vossa Alteza.”

Gwen sentia-se fora de si e estava surpresa pela força que se apoderou dela; ela não tinha ideia de onde tal força provinha.

O taverneiro engoliu saliva.

“Vossa Alteza.” Ele repetiu.

Gwen sustentava o punhal com firmeza.

“Em segundo lugar, meu irmão não vai morrer— e certamente não aqui, neste lugar. Seu cadáver honraria seu estabelecimento muito mais do que qualquer alma viva que já passou por aqui. E se ele realmente morrer, você pode ter certeza de que a culpa recairá sobre você.”

“Mas eu não fiz nada de errado, Alteza! “Ele implorou. “Foi a mesma cerveja que eu servi para todo mundo!”

“Alguém deve tê-la envenenado.” Akorth acrescentou.

“Poderia ter sido qualquer um.” Fulton disse.

Gwen baixou lentamente seu punhal.

“Levem-me até ele. Agora!” Ela ordenou.

Dessa vez, o taverneiro baixou a cabeça com humildade, virou-se e entrou apressado por uma porta lateral por trás do bar. Gwen o seguiu e a ela se juntaram Fulton e Akorth.

Gwen entrou na pequena sala dos fundos da taverna e ouviu a si mesma suspirar quando viu seu irmГЈo, Godfrey, deitado no chГЈo, em decГєbito dorsal. Ele estava mais pГЎlido do que ela jamais o tinha visto. Ele parecia estar Г s portas da morte. Era tudo verdade.

Gwen correu para o seu lado, segurou sua mão e sentiu quão fria e úmida ela estava. Ele não respondia, sua cabeça estava apoiada no chão, sua barba estava por fazer, seu cabelo oleoso estava grudado em sua testa. Mas ela sentia seu pulso, apesar de ser fraco, ele ainda estava lá. Além disso, ela via seu peito inflar-se a cada respiração. Ele estava vivo.

Ela sentiu uma raiva sГєbita apoderar-se dela.

“Como você pôde deixá-lo aqui assim?” Ela gritou, virando-se para o taverneiro. “Meu irmão, um membro da família real, deixado sozinho enquanto está morrendo, jogado no chão como se fosse um cachorro?”

O taverneiro engoliu em seco nervoso.

“E o que mais eu poderia fazer, Alteza? “Ele perguntou, parecendo inseguro. “Este não é um hospital. Todo mundo disse que ele estava praticamente morto e…

“Ele não está morto!” Ela gritou. “E vocês dois…” Ela disse dirigindo-se a Akorth e Fulton. “… Que classe de amigos vocês são? Ele teria deixado vocês assim?”

Akorth e Fulton trocaram um olhar humilde.

“Perdoe-me.” Akorth disse. “O médico veio ontem à noite, olhou para ele e disse que ele estava morrendo e que tudo o que restava era esperar que chegasse sua hora. Eu pensei que já não era possível fazer mais nada.”

“Ficamos com ele durante a maior parte da noite, Alteza.”Fulton acrescentou. “… Ao lado dele. Nós só fizemos uma pausa rápida, tomamos um trago para aplacar nossas dores e então, Vossa Alteza veio e…”

Gwen, enraivecida, estendeu a mГЈo e golpeou as jarras de cerveja nas mГЈos deles, derrubando-as no chГЈo e fazendo o lГ­quido derramar por todas as partes. Eles olharam para ela, chocados.

“Vocês dois, levantem-no pelos braços e pelas pernas.” Ela ordenou friamente, sentindo uma nova força surgir dentro dela. “Vocês vão levá-lo daqui. Vocês vão me seguir pela Corte do Rei até chegar à curandeira real. Meu irmão terá uma chance real de recuperação e não será abandonado para morrer devido à declaração de algum médico estúpido.

“E você…” Ela acrescentou, virando-se para o taverneiro. “Se o meu irmão sobreviver, se ele alguma vez voltar a este lugar e você servir-lhe bebida, eu vou me assegurar em primeira mão de que você seja jogado na masmorra para nunca mais sair.”

O barman se remexeu incômodo e baixou a cabeça.

“Agora mexam-se!” Ela exclamou.

Akorth e Fulton se sobressaltaram e entraram em ação. Gwen saiu correndo da sala, os dois logo saíram atrás dela carregando seu irmão e seguindo-a para fora do bar, na luz do dia.

Eles seguiam apressadamente pelas ruas lotadas da periferia da Corte do Rei, para a curandeira e Gwen sГі rezava para que nГЈo fosse tarde demais.




CAPГЌTULO TRГЉS


Thor galopava através do terreno poeirento dos confins da Corte do Rei, ao lado de Reece, O’Connor, Elden e os gêmeos. Krohn como sempre, corria ao lado dele. Kendrick, Kolk, Brom e dezenas de membros da Legião e do Exército Prata galopavam com eles. Um grande exército estava saindo ao encontro dos McClouds. Eles cavalgavam sincronizados, preparando-se para libertar a cidade. O som dos cascos era ensurdecedor, forte como um trovão. Eles tinham andado o dia todo e o segundo sol já estava no céu há muito tempo. Thor mal podia acreditar que ele estava cavalgando com aqueles grandes guerreiros, em sua primeira missão militar de verdade. Ele sentia que havia sido aceito como um deles. Na verdade, toda a Legião tinha sido convocada como reservas e todos os seus irmãos de armas cavalgavam a sua volta. Os membros da Legião foram ofuscados pelos milhares de membros do exército do rei e Thor, pela primeira vez em sua vida, sentia-se parte de algo maior do que ele mesmo.

Thor tambГ©m sentia um forte senso de dever. Sentia-se necessГЎrio. Seus compatriotas estavam sitiados pelos McClouds e aquele exГ©rcito havia sido incumbido de libertГЎ-los, de salvar seu povo de um terrГ­vel destino. A importГўncia do que eles estavam fazendo pesava sobre ele como uma coisa viva e tambГ©m fazia com que ele se sentisse vivo.

Thor sentia segurança na presença de todos aqueles homens, mas ele também sentia preocupação: aquele era um exército de homens de verdade, o que também significava que eles estavam prestes a enfrentar um exército de homens de verdade. Guerreiros reais, aguerridos. Dessa vez, era uma luta para viver ou morrer e havia muito mais em jogo do que ele já havia encontrado antes. Enquanto ele cavalgava, levou a mão instintivamente à cintura e se sentiu tranquilizado pela presença de sua velha e querida funda e de sua nova espada. Ele se perguntou se no final do dia ela não estaria manchada de sangue. Ou se ele próprio não estaria ferido.

Seu exército, de repente deu um grande grito, um grito mais alto que som dos cascos dos cavalos, ao fazer uma curva e avistar pela primeira vez no horizonte, a cidade sitiada. Uma fumaça negra se elevava em grandes nuvens sobre a cidade e o exército MacGil esporou seus cavalos, ganhando mais velocidade. Thor também esporou seu cavalo com mais força, tentando manter-se a par dos outros, todos eles sacaram suas espadas, levantaram suas armas e se dirigiram para a cidade com intenções mortais.

O enorme exército foi dividido em grupos menores. No grupo de Thor cavalgavam dez soldados, membros da legião e amigos seus, e alguns outros que ele não conhecia. Ao seu comando cavalgava um dos comandantes do exército do rei, um soldado a quem os demais chamavam Forg, um homem alto magro e com uma compleição esbelta, ele tinha a pele esburacada, cabelos grisalhos bem cortados e olhos escuros e fundos. O exército foi dividido em pequenos grupos que prosseguiram em todas as direções

“Este grupo, siga-me!” Ele comandou, gesticulando com seu bastão para Thor e os outros para que se separassem dos demais e o seguissem.

O grupo de Thor seguiu as ordens e foi atrГЎs de Forg, distanciando-se ainda mais do exГ©rcito principal. Thor olhou para trГЎs e notou que seu grupo havia se afastado mais do que a maioria, o exГ©rcito estava agora cada vez mais distante e justo quando Thor estava se perguntando para onde eles estavam sendo guiados, Forg gritou:

“Nós tomaremos uma posição no flanco de McCloud!”

Thor e os outros trocaram um olhar nervoso e entusiasmado enquanto todos eles avançavam, afastando-se até que o exército principal ficou fora da vista.

Logo eles estavam em um terreno novo e a cidade agora estava completamente fora de sua vista. Thor estava alerta, mas nГЈo havia nenhum sinal do exГ©rcito McCloud em lugar nenhum.

Finalmente, Forg puxou o cavalo para uma parada antes de uma pequena colina, em um bosque de ГЎrvores. Os outros vieram atГ© a parada atrГЎs dele.

Thor e os outros olharam para Forg, perguntando-se por que ele tinha parado.

“Aquela fortaleza ali é a nossa missão.” Explicou Forg. “Vocês são jovens guerreiros ainda, por isso queremos poupá-los do calor da batalha. Vocês vão manter esta posição enquanto nosso principal exército varre a cidade e enfrenta o exército McCloud. É improvável que qualquer soldado McCloud apareça pelo caminho e vocês vão estar bastante seguros aqui. Tomem suas posições em torno dela e fiquem aqui até que eu diga o contrário. Agora movam-se!”

Forg esporou seu cavalo e avançou até a colina; Thor e os outros fizeram o mesmo, seguindo-o. O pequeno grupo cavalgava através das planícies empoeiradas, levantando uma nuvem de pó,  até onde Thor podia ver, nenhum inimigo estava à vista. Ele estava desapontado por ter sido retirado da frente de batalha; por que todos eles estavam sendo tão protegidos?

Quanto mais cavalgavam, mais estranho isso parecia a Thor. Ele nГЈo podia explicar, mas seu sexto sentido lhe dizia que algo estava errado.

Quando se aproximaram do topo da colina, onde se encontrava uma antiga fortaleza com sua torre alta e fina, a qual parecia estar abandonada, algo dentro de Thor disse-lhe para olhar para trás. Quando ele fez isso, viu Forg. Thor ficou surpreso ao ver que Forg se colocava gradualmente por trás do grupo, ganhando cada vez mais distância e enquanto Thor observava, ele deu a volta, esporou seu cavalo e sem aviso prévio, galopou na direção oposta.

Thor nГЈo conseguia entender o que estava acontecendo. Porque Forg tinha deixado-os assim de repente? Krohn ganiu ao seu lado.

Thor estava apenas começando a processar o que estava acontecendo, quando eles alcançaram o topo da colina e chegaram até a torre antiga, esperando não ver nada além de terras desertas diante deles.

Mas o pequeno grupo de membros da legiГЈo puxou as rГ©deas de seus cavalos e os deteve abruptamente. Todos eles ficaram ali, paralisados com o que viam diante de si.

Ali, de frente para eles, esperando-os, estava o exГ©rcito inteiro dos McCloud.

Eles tinham sido conduzidos direto para uma armadilha.




CAPГЌTULO QUATRO


Gwendolyn avançava apressada pelas ruas sinuosas da Corte do Rei, abrindo caminho entre a multidão de plebeus seguida por Akorth e Fulton quem transportavam Godfrey. Ela estava determinada a chegar até a curandeira o mais rápido possível. Godfrey não podia morrer, não depois de tudo o que tinham passado e certamente, não daquela maneira. Ela quase podia ver o sorriso de satisfação de Gareth quando ele recebesse a notícia da morte de Godfrey. Ela tinha toda a intenção de mudar o resultado. Se tão somente ela tivesse encontrado Godfrey antes.

Gwen virou uma esquina e entrou na praça da cidade, a multidão tornou-se particularmente maior ali, ela olhou para cima e viu Firth, ainda pendurado em um poste, balançando com a corda apertada em seu pescoço, oferecendo um macabro espetáculo para quem quisesse ver. Ela instintivamente desviou-se. Era uma visão terrível, um lembrete da vilania de seu irmão. Ela sentia que não podia escapar de seu alcance aonde quer que fosse. Era estranho pensar que um dia antes ela estava conversando com Firth e agora ele estava pendurado ali. Ela não podia evitar sentir que a morte a estava rondando e que estava vindo em busca dela também.

Por mais que Gwen quisesse se afastar para escolher outro caminho, ela sabia que seguir pela praça era a maneira mais direta e ela não recuaria diante de seus medos; ela obrigou-se a passar diretamente pelo poste, pelo o corpo pendurado em seu caminho. Ao fazer isso, ela se surpreendeu ao ver o carrasco real, vestido com vestes negras, bloqueando seu caminho.

A princГ­pio, ela pensou que ele ia matГЎ-la tambГ©m, entГЈo ele a cumprimentou com uma reverГЄncia.

“Alteza.” Ele disse humildemente, baixando a cabeça em deferência. “Ainda não recebemos ordens reais a respeito do que fazer com o corpo. Eu não fui instruído sobre se devo dar-lhe um enterro apropriado ou se devo sepultá-lo como indigente em uma sepultura coletiva.”

Gwen parou aborrecida pelo fato de que aquela decisão tivesse recaído sobre ela; Akorth e Fulton pararam bem ao lado dela. Ela olhou para cima, apertou os olhos ao sol, olhando para o corpo pendurado apenas a alguns centímetros dela. Ela estava prestes a seguir em frente e ignorar o homem, quando algo lhe ocorreu. Ela queria justiça para seu pai.

“Jogue-o em uma vala comum.” Disse ela. “Sem inscrição. Não lhe faça nenhum ritual especial de sepultamento. Eu quero o seu nome borrado dos anais da história.”

Ele inclinou a cabeça em reconhecimento e ela sentiu uma pequena sensação de vingança. Afinal, aquele era realmente o homem que tinha matado seu pai. Apesar de odiar manifestações de violência, ela não derramou nenhuma lágrima por Firth. Ela podia sentir o espírito de seu pai com ela agora, mais forte do que nunca e sentiu uma sensação de paz provir dele.

“E mais uma coisa.” Ela acrescentou, parando o carrasco. “Baixe o corpo agora.”

“Agora, minha senhora?” Perguntou o carrasco. “Mas o rei deu ordens para que ele ficasse indefinidamente.”

Gwen abanou a cabeça.

“Agora.” Ela repetiu. “Essas são as novas ordens.” Ela mentiu.

O carrasco curvou-se e correu para baixar o cadГЎver.

Gwen sentiu outra pequena sensação de vingança. Ela não tinha nenhuma dúvida de que Gareth estava observando o corpo de Firth desde sua janela, durante o dia. Sua remoção seria um vexame para ele, serviria como um lembrete de que as coisas nem sempre sairiam como ele as planejava.

Gwen estava quase indo embora, quando ouviu um grito caracterГ­stico, ela parou e virou-se para ver Estopheles, o falcГЈo, empoleirado bem no alto do poste. Ela levantou a mГЈo para proteger os olhos do sol, tentando se certificar de que seus olhos nГЈo a estavam enganando. Estopheles gritou novamente, abriu suas asas e logo depois as fechou.

Gwen podia sentir que o pГЎssaro trazia o espГ­rito de seu pai. Sua alma inquieta estava mais um passo, prГіxima da paz.

De repente, Gwen teve uma  ideia: ela assobiou, estendeu um braço e Estopheles desceu de seu poleiro e pousou no pulso dela. O peso da ave era grande e suas garras cravaram na pele de Gwen.

“Vá até Thor.” Ela sussurrou para a ave. “Encontre-o no campo de batalha. Proteja-o. VÁ!” Ela gritou ao levantar o seu braço.

Ela viu quando Estopheles bateu as asas e se elevou nos ares, cada vez mais alto no cГ©u. Ela rezou para que ele tivesse ГЄxito. Havia algo de misterioso sobre aquele pГЎssaro, especialmente seu vГ­nculo com Thor e Gwen sabia que tudo era possГ­vel.

Gwen continuou apressada pelas ruas sinuosas em direção à casa da curandeira. Passaram por uma das várias portas em arco que davam para fora da cidade. Gwen movia-se tão rápido quanto podia, rezando para que Godfrey aguentasse o tempo suficiente para que eles pudessem obter ajuda.

O segundo sol mergulhou mais baixo no cГ©u no momento em que eles subiram por uma pequena colina nos arredores da Corte do Rei. A cabana da curandeira surgiu diante deles. Era uma cabana pequena e simples com apenas um quarto, suas paredes de barro eram brancas e tinha uma pequena janela de cada lado da pequena porta de carvalho em forma de arco. Penduradas em seu telhado havia plantas de todas as cores e variedades, elas emolduravam a cabana que tambГ©m estava cercada por um jardim de ervas, cujas flores de todas as cores e tamanhos se espalhavam amplamente, dando a impressГЈo de que a casa estava no meio de uma estufa.

Gwen correu para a porta e bateu a aldrava vГЎrias vezes. A porta se abriu e apareceu diante dela o rosto assustado da curandeira.

Illepra. Ela tinha sido a curandeira da famГ­lia real toda a sua vida e tinha estado presente na vida de Gwen, desde quando ela deu seus primeiros passos. Ainda assim, Illepra conseguia ter uma aparГЄncia jovem, na verdade, ela parecia apenas um pouco mais velha do que Gwen. Sua pele radiante brilhava, emoldurando seus gentis olhos verdes e fazendo-a parecer ter apenas um pouco mais de dezoito anos. Gwen sabia que ela era bem mais velha do que isso, sabia que a sua aparГЄncia era enganosa e tambГ©m sabia que Illepra era uma das pessoas mais inteligentes e talentosas que ela jГЎ tinha conhecido.

O olhar de Illepra deslocou-se para Godfrey e ela captou a situação de imediato. Ela acabou com as galanterias e seus olhos se arregalaram de preocupação, percebendo a urgência. Ela passou por Gwen e correu para o lado de Godfrey, colocando a palma da mão sobre sua testa. Ela franziu o cenho, preocupada.

“Tragam-no para dentro.” Ela ordenou aos dois homens, apressadamente. “E depressa!”

Illepra voltou para dentro, abrindo mais a porta e eles a seguiram rapidamente entrando apressados na cabana. Gwen os seguiu, agachando-se ao passar pela pequena entrada e fechou a porta atrГЎs deles.

Estava escuro ali e seus olhos demoraram um momento para ajustar-se, quando o fizeram, Gwen viu a casa exatamente como ela se lembrava desde que era menina: pequena, clara e limpa, repleta de plantas, ervas e poções de toda variedade.

“Coloquem-no ali.” Illepra ordenou aos homens, com uma voz tão séria como Gwen jamais tinha ouvido. “Naquela cama, no canto. Tirem sua camisa e seus sapatos. E depois, deixem-nos a sós.”

Akorth e Fulton fizeram tal como lhes foi dito. Quando eles estavam correndo para a porta, Gwen agarrou o braço de Akorth.

“Fique de guarda do lado de fora.”Ordenou ela. “Quem veio atrás de Godfrey pode querer ter uma última chance de acabar com ele. Ou comigo.”

Akorth assentiu com a cabeça e ele e Fulton saíram, fechando a porta atrás deles.

“Há quanto tempo ele está assim?” Illepra perguntou com urgência, sem olhar para Gwen enquanto se ajoelhava ao lado de Godfrey e começava a tomar seu pulso, apalpar seu estômago e examinar sua garganta.

“Desde ontem à noite.” Gwen respondeu.

“Ontem à noite!” Illepra repetiu, sacudindo a cabeça com preocupação. Ela examinou-o por um longo tempo, em silêncio, sua expressão ficou sombria.

“Isso não é nada bom.” Ela disse finalmente.

Ela colocou a mão sobre a testa de Godfrey de novo e dessa vez fechou os olhos, respirando fundo por um tempo muito longo. Um silêncio espesso invadiu o quarto e Gwen estava começando a perder a noção do tempo.

“Veneno.” Illepra finalmente sussurrou, com os olhos ainda fechados, como se estivesse lendo seus sintomas por osmose.

Gwen sempre se maravilhava com sua habilidade; ela nunca tinha errado, nem uma única vez em toda sua vida. Ela tinha salvado mais vidas do que as que o exército tinha tomado. Ela se perguntava se aquela era uma habilidade aprendida ou se tinha sido herdada. A mãe de Illepra tinha sido curandeira e sua avó também. Mas, ao mesmo tempo, Illepra tinha passado cada minuto de sua vida estudando poções e artes de cura.

“Um veneno muito poderoso.” Illepra acrescentou mais confiante. “Um que eu raramente encontro. Um veneno caríssimo. Quem estiver tentando matá-lo sabe o que está fazendo. É incrível que ele não tenha morrido. Ele deve ser muito mais forte do que pensamos.”

“Ele herdou essa força de meu pai.” Gwen disse. “Ele tinha a força de um touro. Todos os MacGil kings tinham.”

Illepra atravessou a sala e misturou várias ervas em um recipiente de madeira, cortando, moendo-as e adicionando-lhes um líquido durante o processo. O produto final era uma pomada espessa, verde, com a qual ela encheu a palma da mão e correu de volta para o lado de Godfrey para aplicá-la massageando sua testa, sua garganta e a parte de baixo de seus braços. Quando ela terminou, ela atravessou a sala novamente, pegou um copo e derramou vários líquidos nele, um líquido vermelho, um marrom e um roxo. À medida que os líquidos se misturavam, a poção chiava e borbulhava. Ela a mexeu com uma longa colher de madeira, em seguida, correu de volta para Godfrey e aplicou-a sobre seus lábios.

Godfrey não se mexeu. Illepra chegou por trás de sua cabeça, levantou-a com a palma da mão e tentou meter o líquido em sua boca. A maior parte dele derramou pelas comissuras, mas parte dele passou por sua garganta.

Illepra limpou o lГ­quido de sua boca e queixo e entГЈo, finalmente se inclinou para trГЎs e suspirou.

“Ele vai viver?” Gwen perguntou ansiosa.

“É possível.” Ela respondeu sombria. “Eu lhe dei tudo o que tenho, mas não será suficiente. Sua vida está nas mãos do destino.”

“O que eu posso fazer?” Gwen perguntou.

Ela se virou e olhou para Gwen.

“Reze por ele. Esta vai ser realmente uma longa noite.”




CAPГЌTULO CINCO


Kendrick nunca tinha apreciado o que era a liberdade, verdadeira liberdade, até aquele dia. O tempo que ele passou trancado no calabouço havia mudado seu ponto de vista sobre a vida. Agora ele apreciava cada pequena coisa: o calor do sol em seu rosto; o vento em seu cabelo; simplesmente poder estar ao ar livre; deslocar-se em um cavalo, sentindo a terra abaixo dele ficar para trás em alta velocidade; estar de novo com sua armadura; ter o seu armamento de volta e andar ao lado de seus irmãos em armas fazia com que ele se sentisse como se tivesse saído disparado de um canhão. Isso o fazia se sentir temerário. Isso era algo que ele nunca havia experimentado antes.

Kendrick galopava, inclinando-se ao vento, seu amigo íntimo Atme ia ao seu lado, muito grato pela oportunidade de lutar com seus irmãos para não perder aquela batalha, ansioso por libertar sua cidade natal dos McClouds e fazê-los pagar caro por invadi-la. Ele cavalgava com um forte desejo de derramar sangue, mas mesmo enquanto cavalgava ele sabia que o verdadeiro alvo da sua ira não eram os McClouds, mas sim seu irmão, Gareth. Ele nunca iria perdoá-lo por aprisioná-lo; por acusá-lo do assassinato de seu pai; por levá-lo embora na frente de seus homens e por tentar executá-lo. Kendrick queria vingança contra Gareth, mas já que ele não podia tê-la ainda, pelo menos não naquele dia, ele iria obtê-la com os McClouds.

No entanto, quando Kendrick retornasse Г  Corte do Rei, ele iria resolver as coisas. Ele faria o que pudesse para derrubar seu irmГЈo e incutir em sua irmГЈ Gwendolyn a tarefa de ser a nova governante.

Eles se aproximaram da cidade saqueada e enorme, nuvens negras espiraladas giravam em direção a eles, enchendo as narinas de Kendrick com uma fumaça acre. Doía-lhe ver uma cidade MacGil assim. Se seu pai ainda estivesse vivo, isso jamais teria acontecido; se Gareth não tivesse sido o sucessor dele, isso tampouco teria acontecido. Era uma desgraça, uma mancha na honra dos MacGils e do Exército Prata. Kendrick orou para que não fosse tarde demais para salvar aquelas pessoas; para que os McClouds não tivessem estado ali por muito tempo e para que não houvesse muitas pessoas feridas ou mortas.

Ele esporou o cavalo, cavalgando na frente dos outros enquanto todos eles investiam como um enxame de abelhas, pela entrada da cidade, cujas portas estavam abertas. Eles arremeteram, Kendrick puxou a espada, preparando-se para enfrentar uma série de inimigos McCloud enquanto eles avançavam pela cidade. Ele soltou um grande grito e quando ele o fez, todos os homens ao seu redor, prepararam-se para o confronto.

Mas quando ele passou pelo portão e entrou na praça poeirenta da cidade, ficou perplexo ao não ver ninguém. Tudo que havia ao redor dele eram os sinais reveladores de uma invasão: destruição; incêndios; casas saqueadas; corpos empilhados; mulheres rastejando. Havia animais mortos e sangue nas paredes. Tinha sido um massacre. Os McClouds tinham devastado aquele povo inocente. Esse pensamento deixou Kendrick doente. Os McClouds eram uns covardes.

Mas o que deixou Kendrick ainda mais perplexo enquanto cavalgava era o fato de que os McClouds nГЈo estavam Г  vista. Ele nГЈo conseguia entender. Era como se todo o exГ©rcito houvesse evacuado deliberadamente, como se soubessem que eles estavam vindo. Fogueiras ainda estavam ardendo e estava claro que elas tinham sido acesas com um propГіsito.

Estava começando a ficar claro para Kendrick que tudo aquilo era um chamariz. Que os McClouds queriam atrair o exército MacGil para aquele lugar.

Mas por quГЄ?

Kendrick repente virou-se, olhou em volta, desesperado para ver se faltava algum dos seus homens,  se algum contingente havia sido atraído para longe, para outro local. Sua mente estava sendo inundada com uma nova sensação, a sensação de que aquilo tinha sido arranjado para isolar um grupo de seus homens e emboscá-los. Ele olhou para todos os lugares, perguntando-se quem estaria faltando.

E então a revelação o atingiu como um raio. Faltava alguém. Seu escudeiro.

Thor.




CAPГЌTULO SEIS


Thor estava montado em seu cavalo, no topo da colina, o grupo de membros da Legião e Krohn estavam ao lado dele. Ele olhava para a visão surpreendente diante dele. Até onde a vista alcançava, era possível ver as tropas McCloud, um vasto e amplo exército, montado a cavalo, esperando por eles. Eles tinham caído em uma armadilha. Forg devia tê-los levado ali de propósito, ele os havia traído. Mas por quê?

Thor engoliu saliva, olhando para o que parecia ser sua morte certa.

Um grande grito de guerra se ouviu quando o exército McCloud de repente, investiu contra eles. Eles estavam a menos de um quilômetro de distância e aproximavam-se rapidamente. Thor olhou para trás, por cima do ombro, mas segundo ele pôde ver, não havia reforços. Eles estavam completamente sozinhos.

Thor sabia que não tinha outra escolha a não ser defender sua última posição ali, naquela pequena colina, ao lado daquela fortaleza deserta. As probabilidades eram escassas e não havia nenhuma maneira de que pudessem vencer. Mas se ele tivesse de descer a colina, ele desceria bravamente e iria enfrentar a todos como um homem. A Legião havia lhe ensinado muito. Fugir deles não era uma opção. Thor preparou-se para enfrentar sua morte.

Thor voltou-seВ  e olhou para o rosto de seus amigos, ele podia ver que eles tambГ©m estavam pГЎlidos de medo. Ele via a morte em seus olhos. Mas para seu crГ©dito, eles permaneciam ali corajosamente. Nenhum deles se encolheu ou fez algum movimento para virar-se e ir embora, apesar de que seus cavalos estivessem empinando. A legiГЈo era uma unidade agora. Eles eram mais do que amigos. A Centena havia feito deles uma equipe de irmГЈos. Nenhum deles iria deixar o outro. Todos tinham feito um voto e sua honra estava em jogo e para a LegiГЈo, a honra era mais sagrada do que o sangue.

“Cavalheiros, eu acredito que nós temos uma batalha diante de nós.” Reece anunciou lentamente quando ele se aproximou e puxou sua espada.

Thor se abaixou e puxou a funda, querendo abater tantos homens quanto ele pudesse antes que eles os alcançassem. O’Connor sacou a lança curta, enquanto Elden erguia seu dardo; Conval levantou um martelo de arremesso e Conven uma picareta de arremesso. Os outros membros da Legião, os quais Thor não conhecia, sacaram suas espadas e levantaram seus escudos. Thor podia sentir o temor no ar e ele sentia isso também quando o tropel dos cavalos se incrementou e o som dos gritos dos McClouds chegou aos céus soando como uma trovoada, prestes a atingi-los. Thor sabia que eles precisavam de uma estratégia, mas ele não sabia qual.

Ao lado de Thor, Krohn rosnou. Thor buscou inspiração na intrepidez dele. Krohn nunca choramingou ou olhou para trás nem sequer uma vez. Na verdade, o pelo de suas costas estava eriçado e ele caminhava lentamente para a frente, como se fosse ao encontro do exército sozinho. Thor sabia que em Krohn ele tinha encontrado um verdadeiro companheiro de batalha.

“Você acha que vamos receber reforços?” O’Connor perguntou.

“Não vão chegar a tempo.” Elden respondeu. “Forg nos trouxe para uma armadilha.”

“Mas por quê?” Reece perguntou.

“Eu não sei.” Thor respondeu dando um passo à frente em seu cavalo. “Mas eu tenho o triste palpite de que tem algo a ver comigo. Acho que alguém me quer morto.”

Thor sentiu que os outros se viravam e olhavam para ele.

Por quê?” Reece perguntou.

Thor deu de ombros. Ele não sabia, mas ele tinha o palpite de que tinha a ver com todas as maquinações na Corte do Rei, algo a ver com o assassinato do Rei MacGil. Muito provavelmente, era Gareth. Talvez ele visse a Thor como uma ameaça.

Thor se sentia muito mal por ter posto em perigo os seus irmГЈos de armas, mas nГЈo havia nada que ele pudesse fazer a respeito disso agora. Tudo o que ele podia fazer era tentar defendГЄ-los.

Thor já tinha aguentado o suficiente. Ele gritou, apertou seu cavalo com os calcanhares e rompeu em um galope, avançando na frente dos demais. Ele não esperaria que aquele exército fosse ao seu encontro, ele não esperaria que a morte viesse reunir-se com ele. Ele iria dar os primeiros golpes, talvez até mesmo desviá-los de alguns de seus irmãos de armas e dar-lhes uma chance de correr se eles decidissem fazer isso. Se ele estivesse indo ao encontro de seu fim, ele iria encontrá-lo sem medo, honradamente.

Tremendo por dentro, mas recusando-se a demonstrá-lo, Thor galopava cada vez mais longe dos outros, prosseguindo, descendo a colina em direção ao exército que avançava. Ao lado dele, Krohn corria, sem perder o ritmo.

Thor ouviu um grito bem atrás dele, seus companheiros da Legião corriam para alcançá-lo. Eles estavam a quase vinte metros de distância e galopavam atrás dele, lançando um grito de guerra. Thor permaneceu à frente, mas ele sentia-se bem tendo o apoio dos homens atrás dele.

Um contingente de guerreiros com cerca de cinquenta homens irrompeu do exército McCloud e avançou ao encontro de Thor. Eles agora estavam a uns cem metros à sua frente e se aproximavam rapidamente. Thor pegou sua funda, colocou uma pedra nela, mirou e atirou. Ele alvejou o líder dos guerreiros, um homem grande, com uma couraça de prata e sua pontaria foi perfeita. Ele atingiu o homem na base da garganta, entre as placas de sua armadura, o homem caiu do cavalo, atingindo o chão diante dos outros.

Quando o guerreiro caiu, seu cavalo caiu com ele e as dezenas de cavalos atrás dele se amontoaram, lançando seus soldados de cara contra o chão.

Antes que pudessem reagir, Thor colocou outra pedra na funda, se inclinou para trás e atirou. Mais uma vez, sua pontaria foi certeira e ele acertou um dos guerreiros em sua têmpora, no ponto exposto por sua viseira levantada, ele caiu de lado de seu cavalo, levando para baixo consigo vários outros guerreiros, como se todos fossem peças de um dominó.

Enquanto Thor galopava, um dardo passou voando por sua cabeça, em seguida passaram: uma lança, logo depois um martelo e uma picareta de arremesso. Thor sabia que seus irmãos da Legião o estavam apoiando. Sua pontaria era boa também e suas armas derrubavam os soldados McCloud com precisão mortal, vários deles caíam de seus cavalos e colidiam uns com os outros.

Thor estava exultante ao ver que eles jГЎ tinham conseguido derrubar dezenas de soldados McCloud, alguns deles com ataques diretos, mas a maioria estava sendo desarmada ao cair de seus cavalos. O contingente de cinquenta homens estava agora no chГЈo, deitado em meio a grandes nuvens de poeira.

Mas o exército McCloud era forte e agora era a sua vez de revidar. Quando Thor veio a estar a cerca de trinta metros de distância dele, vários guerreiros lançaram armas em sua direção. Um martelo de arremesso vinha direto para seu rosto e Thor se abaixou no último momento, o ferro passou zunindo a apenas centímetros de sua orelha, errando por um triz. Uma lança veio voando em sua direção e ele rapidamente se abaixou esquivando-se para o outro lado, a ponta roçou a parte externa da sua armadura, felizmente falhando o alvo. Uma picareta de arremesso veio direto para seu rosto e Thor ergueu o escudo bloqueando-a. Ela ficou presa ao seu escudo, Thor girou o escudo, arrancou a picareta e atirou-a de volta em seu atacante. A pontaria de Thor era ótima, a picareta se alojou no peito do homem, perfurando sua cota de malha. O homem gritou e caiu com um gemido sobre seu cavalo, ele estava morto.

Thor prosseguiu atacando. Ele avançava agora direto para o grosso do exército, direto para um mar de soldados. Ele estava preparado para enfrentar sua morte. Ele gritou, ergueu a espada e soltou um grande grito de guerra, seus irmãos de armas, atrás dele, também fizeram o mesmo.

O encontro produziu um grande choque de armas. Um enorme guerreiro avançou para ele levantando um machado com as duas mãos e o baixou em direção à cabeça de Thor. Thor se abaixou, o balanço da lâmina passou por cima de sua cabeça e cortou o estômago do soldado quando ele passou por Thor cavalgando. O homem gritou e caiu sobre o seu cavalo. Quando ele caiu, derrubou o machado de batalha, o qual saiu voando para terminar atingindo um cavalo McCloud. O cavalo relinchou e empinou, derrubando o seu cavaleiro sobre vários outros.

Thor continuou a avançar direto para a massa de guerreiros McCloud, centenas deles, abrindo caminho através deles, enquanto um guerreiro após o outro se lançava sobre ele com suas espadas, machados e clavas. Thor bloqueava as armas com seu escudo ou se esquivava delas, cortando os golpes, abaixando-se e ziguezagueando, galopando entre eles. Ele era muito rápido, muito ágil para eles e eles não esperavam por isso. Como um grande exército, eles não podiam manobrar rápido o suficiente para poder detê-lo.

Houve um grande choque de metais ao seu redor, os golpes choviam sobre ele, provindo de todas as direções. Ele bloqueava um após o outro com seu escudo e sua espada. Mas ele não podia repelir todos eles. O golpe de uma espada roçou seu ombro e ele gritou de dor quando viu o sangue sair. Felizmente o ferimento era superficial e isso não o impediu de lutar. Ele continuou batalhando.

Thor lutava com as duas mãos e estava cercado por guerreiros McCloud, logo os golpes começaram a diminuir quando outros membros da Legião se juntaram ao bando. O ruído das armas aumentava enquanto os homens McCloud lutavam contra os rapazes da Legião, espadas batiam contra escudos, lanças atingiam cavalos, dardos perfuravam armaduras, os homens lutavam de todas as maneiras possíveis. Os gritos soavam dos dois lados.

A Legião tinha a vantagem de ser uma força de combate pequena e ágil, havia dez soldados dela no meio de um exército enorme e lento. O exército McCloud estava engarrafado e nem todos os guerreiros podiam alcançar os membros da Legião de uma só vez. Thor se viu lutando contra dois ou três homens ao mesmo tempo, mas não mais do que isso. Seus irmãos guardavam suas costas, impedindo-o de ser atacado por trás.

Um guerreiro pegou Thor de surpresa e balançou seu mangual direto para a cabeça dele. Krohn rosnou e atacou, ele deu um salto no ar e abocanhou o pulso do atacante, rasgando sua carne. O sangue voou por todas as partes, obrigando o soldado a mudar de direção justo antes que o mangual impactasse no crânio de Thor.

Tudo era como um confuso como um borrão enquanto Thor lutava, cortava e aparava golpes em todas as direções, usando toda a sua habilidade para defender-se; para atacar; para cuidar de seus irmãos e para cuidar de si mesmo. Ele instintivamente evocou seus intermináveis dias de treinamento, quando treinava ser atacado por todos os lados, em todas as situações. De certa forma, aquilo parecia natural para Thor. Eles o haviam treinado bem e ele sentia-se capaz de lidar com tudo. Seu medo sempre estava lá, mas ele se sentia capaz de controlá-lo.

À medida que Thor lutava, seus braços se sentiam cada vez mais pesados e seus ombros cansados. As palavras de Kolk ecoaram em seus ouvidos:

“Seu inimigo nunca vai lutar nos seus termos. Ele vai lutar nos termos dele. A guerra para você significa guerra para alguém mais.”

Thor avistou um guerreiro baixo e largo levantar uma corrente com puas com as duas mãos e balançá-la por trás da cabeça de Reece. Reece não percebeu o que estava acontecendo, em mais um momento, ele estaria morto.

Thor pulou de seu cavalo, saltou no ar diretamente sobre o guerreiro, antes que ele lançasse a corrente. Os dois saíram voando dos cavalos e caíram com força no chão, em meio a uma nuvem de poeira, Thor rolava pelo chão sufocado, enquanto os cavalos pisoteavam tudo ao seu redor. Ele lutava com o guerreiro no chão e quando o homem ergueu os polegares para arrancar os olhos de Thor, Thor de repente ouviu um grito e viu Estopheles descendo suas garras sobre os olhos do homem justo antes que ele pudesse machucar Thor. O homem gritou apertando os olhos e Thor lhe deu uma forte cotovelada derrubando o homem de cima dele.

Antes que Thor tivesse a chance de deleitar-se com sua vitГіria, ele sentiu um forte chute no estГґmago que o fez cair de costas. Ele olhou para cima para ver um guerreiro levantando um martelo de guerra com as duas mГЈos e baixando-o direto para seu peito.

Thor rolou para o lado e o martelo passou zunindo por ele, afundando na terra atГ© o cabo. Ele percebeu que escapou por pouco de morrer esmagado pelo martelo.

Krohn atacou o homem, saltando para a frente e afundando suas presas no seu cotovelo. O soldado socou Krohn uma e outra vez. Mas Krohn não o soltava, ele rosnava e finalmente arrancou o braço do homem. O soldado gritou e caiu no chão.

Um soldado aproximou-se e brandiu sua espada para Krohn, mas Thor rolou com seu escudo e bloqueou o golpe, salvando a vida de Krohn. Todo o seu corpo tremeu com o som estridente do golpe. Mas, enquanto Thor estava ali ajoelhado e exposto, outro guerreiro avançou sobre ele com seu cavalo, pisoteando-o, derrubando-o de cara no chão, Thor sentia como se os cascos do cavalo estavam esmagando todos os ossos do seu corpo.

VГЎrios soldados de McCloud saltaram e rodearam Thor, encurralando-o.

Thor percebeu que estava em uma péssima situação. Ele daria tudo para estar montado de volta em seu cavalo naquele instante. Enquanto ele estava ali no chão, com a cabeça explodindo de dor, ele viu com o canto do olho, seus outros membros da Legião lutando e perdendo terreno. Um dos rapazes da Legião o qual ele não conhecia, soltou um grito estridente e Thor viu quando uma espada perfurou seu peito e ele caiu morto.

Mais um membro desconhecido da Legião veio em seu auxílio, matando seu agressor com um golpe de sua lança. Mas, enquanto isso, um McCloud o atacou por trás e enfiou um punhal em seu pescoço. O jovem gritou e caiu de seu cavalo, já morto.

Thor se voltou e olhou para cima para ver uma meia dúzia de soldados caindo sobre ele. Um deles levantou a espada e baixou-a em direção ao seu rosto. Thor estendeu a mão e bloqueou-a com seu escudo, o barulho do golpe ressoou em seus ouvidos. Porém outro soldado levantou o pé e chutou o escudo de Thor, tirando-o de sua mão.

Um terceiro atacante pisou no pulso do Thor, prendendo-o no chГЈo.

Um quarto atacante avançou e levantou a lança, preparando-se para perfurar o peito de Thor.

Thor ouviu um grande rosnado e viu quando Krohn pulou sobre o soldado, jogando-o para trás e prendendo-o no chão. Mas um soldado adiantou-se e golpeou Krohn com uma maça, atingindo-o com tanta força que o leopardo tombou com um ganido e caiu de costas, inerte.

Outro soldado deu um passo adiante, ficando de pГ© sobre Thor. Ele levantou um tridente fazendo uma careta. Desta vez nГЈo havia ninguГ©m para detГЄ-lo. Ele se preparou para baixar o tridente direto contra o rosto de Thor e enquanto Thor estava ali preso e indefeso, ele nГЈo podia deixar de sentir que finalmente, o seu fim havia chegado.




CAPГЌTULO SETE


Gwen estava ajoelhada ao lado de Godfrey na cabana claustrofГіbica. Illepra se encontrava ao seu lado. Gwen jГЎ nГЈo aguentava mais. Ela tinha estado ouvindo os gemidos de seu irmГЈo por horas, tinha visto como o rosto de Illepra ficava cada vez mais sombrio e parecia que Godfrey realmente iria morrer. Gwen sentia-se tГЈo impotente, simplesmente sentada ali. Ela sentia que precisava fazer alguma coisa. Qualquer coisa.

Ela estava atormentada não somente pela culpa e a preocupação com Godfrey, ela estava ainda mais preocupada por Thor. Ela não conseguia afastar de sua mente a imagem dele avançando para a batalha, prestes a morrer, sendo enviado por Gareth direto para uma armadilha. De alguma forma, ela também sentia que tinha de ajudar Thor. Ela ia enlouquecer se ficasse sentada ali.

De repente, Gwen se levantou e atravessou a cabana.

“Para onde vai?” Illepra perguntou com sua voz rouca de tantos cânticos e preces.

Gwen virou-se para ela.

“Eu volto logo.” Disse ela. “Há uma coisa que devo tentar.”

Ela abriu a porta e correu para fora, para o pôr-do-sol e piscou ao ver a paisagem diante de si: o céu estava manchado de vermelho e roxo, o segundo sol posto como uma bola verde no horizonte. Akorth e Fulton, para seu crédito, ainda estavam ali, de guarda. Eles levantaram-se e olharam para ela com preocupação em seus rostos.

“Ele vai viver?” Akorth perguntou.

“Eu não sei.” Disse Gwen. “Fiquem aqui montando guarda.”

“E para onde está indo?” Fulton perguntou.

Quando ela olhou para o céu vermelho sangue e captou uma sensação mística no ar, ela teve uma ideia: havia um homem que poderia ajudá-la.

Argon.

Se havia uma pessoa em quem Gwen podia confiar; uma pessoa que amava Thor e que havia permanecido leal ao seu pai; uma pessoa que tinha o poder de ajudГЎ-la, de alguma forma, essa pessoa era ele.

“Preciso procurar alguém especial.” Disse ela.

Ela virou-se e correu apressada pelas planícies, traçando o seu caminho para a cabana de Argon.

Ela não tinha estado ali há anos, desde que era uma criança, mas ela lembrava que ele vivia no alto das desoladas planícies escarpadas. Ela corria e corria mal tomando o fôlego, à medida que o terreno tornava-se mais desolado, mais ventoso e a vegetação dava lugar a seixos e logo às rochas. O vento uivava e enquanto ela prosseguia a paisagem tornou-se estranha. Gwen se sentia como se estivesse andando na superfície de uma estrela.

Ela finalmente chegou Г  cabana de Argon e bateu Г  porta, totalmente sem fГґlego. NГЈo havia nenhum trinco que ela pudesse usar em nenhum lugar. Mas Gwen sabia que aquela era a casa dele.

“Argon!” Ela exclamou. “Sou eu! A filha de MacGil! Deixe-me entrar! Eu lhe ordeno!”

Ela batia e batia, mas a Гєnica resposta era o uivo do vento.

Finalmente, ela rompeu em lГЎgrimas, exausta, sentindo-se mais impotente do que nunca. Sentia-se vazia, como se ela nГЈo tivesse mais nenhum lugar para onde ir.

À medida que o sol se punha mais profundamente no céu, seu vermelho-sangue dava lugar ao crepúsculo. Gwen virou-se e começou a caminhar de volta colina abaixo. Ela enxugava as lágrimas de seu rosto enquanto seguia desesperada para descobrir para onde iria agora.

“Por favor, pai.” Disse ela em voz alta, fechando os olhos. “Dê-me um sinal. Mostre-me aonde ir. Mostre-me o que fazer. Por favor, não deixe que o seu filho morra hoje. E, por favor, não deixe que Thor morra. Se você me ama, me responda.”

Gwen entrou em silêncio, ouvindo o vento, quando, de repente, um flash de inspiração bateu nela.

O lago. O Lago das Lamentações.

Claro. O lago era o lugar aonde todo mundo ia para orar por alguГ©m que estava mortalmente doente. Era um pequeno lago de ГЎguas puras e cristalinas, no meio do Bosque Vermelho, cercado por ГЎrvores altas que se elevavam atГ© o cГ©u. Ele era considerado um lugar sagrado.

Obrigado pai, por me responder. Gwen pensou.

Ela o sentiu ali, com ela naquele momento, mais do que nunca, então começou a correr apressada em direção ao Bosque Vermelho, em direção ao lago que ouviria seus lamentos.


*

Gwen ajoelhou-se na margem do Lago das Lamentações, seus joelhos estavam apoiados na folhagem macia dos pinheiros que rodeavam a água como um anel. Ela olhava para as águas tranquilas, eram as águas mais tranquilas que ela já tinha visto, as quais espelhavam a lua crescente. Era uma lua cheia brilhante, a maior que ela já tinha visto e enquanto o segundo sol ainda estava se pondo, a lua estava subindo, lançando ambos, a luz do sol e do luar sobre o Anel. O sol e a lua se refletiam nas águas do lago, um em frente do outro e Gwen sentiu a aura sagrada daquele momento do dia. Era a janela entre o final de um dia e o início de outro e naquele momento sagrado, naquele lugar sagrado, tudo era possível.

Gwen se ajoelhou ali, chorando, rezando por tudo o que era mais sagrado. Os acontecimentos dos últimos dias tinham sido demais para ela e agora ela estava descarregando suas emoções. Ela rezava por seu irmão, porém, rezava mais ainda por Thor. Ela não podia suportar a ideia de perder ambos naquela noite, a ideia de não ter mais ninguém ao seu redor, além de Gareth. Ela não podia suportar a ideia de ser enviada para se casar com algum bárbaro. Ela sentia sua vida desmoronar ao seu redor e precisava de respostas. Mais do que tudo, ela precisava de esperança.

Havia muitas pessoas em seu reino que oravam a vários deuses: ao deus dos lagos; ao deus dos bosques; ao deus das montanhas, ou ao deus do vento, mas Gwen nunca acreditou em qualquer um deles. Ela, como Thor, era uma das poucas pessoas que ia na contramão da crença comum de seu reino, e seguia o caminho radical de crer em apenas um Deus, apenas em um ser supremo que controlava todo o universo. E foi a esse Deus a quem ela orou.

Por favor, Deus. Ela orou. Faze com que Thor retorne a mim. Permite que ele seja salvo da batalha. Permite que ele escape da emboscada. Por favor, permite que Godfrey viva. E, por favor, protege-me… Não deixe que me levem daqui, casada com um selvagem. Eu farei qualquer coisa. Apenas dá-me um sinal. Mostra-me qual é tua vontade para comigo.

Gwen ficou ajoelhada ali por muito tempo. Não se ouvia nada além do uivo do vento soprando entre os pinheiros infinitamente altos do Bosque Vermelho. Ela ouvia o ranger suave dos ramos enquanto eles balançavam acima de sua cabeça e sua folhagem caía na água.

“Cuidado com o que pede em suas orações.” Disse uma voz.

Ela virou-se vacilando e ficou chocada ao ver alguém de pé, não muito longe dela. Ela teria ficado assustada, no entanto, reconheceu a voz imediatamente, era uma voz antiga, mais velha do que as árvores, mais antiga que a própria terra e seu coração alegrou-se quando ela percebeu quem era.

Ela virou-se e o viu pertoВ  dela, vestindo seu manto branco e capuz. Seus olhos translГєcidos queimavam atravГ©s dela como se ele estivesse olhando para sua prГіpria alma. Ele segurava seu cajado, iluminado pelo pГґr-do-sol e pela luz da lua.

Argon.

Ela levantou-se e o encarou.

“Eu estive a sua procura.” Disse ela. “Fui a sua cabana. Você me ouviu bater?”

“Eu ouço tudo.” Ele respondeu enigmaticamente.

Ela fez uma pausa intrigada. Ele era inexpressivo.

“Diga-me o que eu devo fazer.” Disse ela. “Eu farei qualquer coisa. Por favor, não deixe Thor morrer. Você não pode deixá-lo morrer!”

Gwen se adiantou e agarrou seu pulso, implorando. Mas quando ela o tocou, foi arrasada por um calor escaldante que percorreu seu pulso e suas mГЈos e ela se afastou dominada pela energia.

Argon suspirou e se virou, afastando-se dela e dando vários passos em direção ao lago. Ele ficou ali, olhando para a água, seus olhos brilhavam na luz.

Ela caminhou para o lado dele e ficou em silГЄncio, por quanto tempo ela nГЈo sabia, esperando atГ© que ele estivesse disposto a falar.

“Não é impossível mudar o destino.” Disse ele. “Mas ele cobra um preço muito alto pelo que lhe pede. Você quer salvar uma vida. Esse é um esforço nobre. Mas você não pode salvar duas vidas. Você vai ter de escolher.”

Ele se virou e a encarou.

“Quem você quer que sobreviva esta noite Thor, ou seu irmão? Um deles deve morrer. Está escrito.”

Gwen ficou horrorizada com a pergunta.

“Que tipo de escolha é essa?” Ela perguntou. “Ao salvar um, eu condeno o outro.”

“Não.” Ele respondeu. “Ambos estão destinados a morrer. Eu sinto muito. Mas este é o destino deles.”

Gwen sentiu como se um punhal tivesse sido enfiado em seu estГґmago. Ambos estavam destinados a morrer? Era algo horrГ­vel demais para se imaginar. Poderia o destino ser realmente tГЈo cruel?

“Eu não posso escolher um no lugar do outro.” Finalmente ela disse com sua voz quebrada. “Meu amor por Thor é mais forte, é claro. Mas Godfrey é carne da minha carne e sangue do meu sangue. Eu não posso tolerar a  ideia de que um deles viva graças à morte do outro. E eu não creio que nenhum deles deseje isso.”

“Então, ambos morrerão.” Argon replicou.

Gwen sentiu-se invadida pelo pГўnico.

“Espere!” Ela exclamou quando ele começou a se afastar.

Ele se virou e olhou para ela.

“E o que vai ser de mim?” Ela perguntou. “E se eu morresse no lugar deles? Isso seria possível? Ambos poderiam viver e eu morrer?”

Argon olhou para ela por um longo tempo, como se estivesse captando sua prГіpria essГЄncia.

“Seu coração é puro.” Ele disse. “Você é o mais puro coração de todos os MacGils. Seu pai escolheu sabiamente. Sim, ele fez isso…”

A voz de Argon sumiu enquanto ele continuava a olhar em seus olhos. Gwen se sentia incГґmoda, mas nГЈo se atreveu a olhar para longe.

“Por causa de sua escolha, por causa de seu sacrifício desta noite.” Argon disse. “O destino a ouviu. Thor será salvo esta noite. E também o seu irmão. Você viverá também. Mas um pequeno pedaço de sua vida deve ser tomado. Lembre-se, há sempre um preço. Você sofrerá uma morte parcial em troca da vida de ambos.”

“O que isso significa?” Ela perguntou aterrorizada.

“Tudo tem seu preço.” Ele respondeu. “Você fez uma escolha. Você preferiria não pagar por isso?”

Gwen se preparou.

“Eu farei qualquer coisa por Thor.” Disse ela. “E por minha família.”

Argon olhava fixamente atravГ©s dela.

“Thor tem um grande destino.” Disse Argon. “Mas o destino pode mudar. Nosso destino está em nossas estrelas. Mas também é controlado por Deus. Deus pode mudar o destino. Thor estava destinado a morrer esta noite. Ele vai viver só por causa de você. Você vai pagar esse preço. E o custo será alto.”

Gwen queria saber mais, entГЈo ela estendeu a mГЈo para Argon, mas quando ela o fez, de repente, uma luz brilhante passou diante dela e Argon desapareceu.

Gwen virou-se, procurando por ele em todas as direções, mas ele estava longe de ser encontrado.

Finalmente, ela virou-se e olhou para o lago, ele estava tão sereno, era como se nada tivesse acontecido ali naquela noite. Ela viu o seu reflexo na água e ela parecia tão distante. Ela estava cheia de gratidão e finalmente, com uma sensação de paz. Mas ela também não podia evitar sentir uma sensação de temor sobre seu próprio futuro. Por mais que ela tentasse afastar esse temor de sua mente, ela não podia deixar de perguntar-se:  qual seria o preço que teria de pagar pela vida de Thor?




CAPГЌTULO OITO


Thor estava deitado, impotente no meio do campo de batalha, preso ao chão, por soldados McCloud. Ele ouvia o estrondo da batalha, os gritos dos cavalos, dos homens que morriam ao seu redor. O sol poente e a lua cheia nascente, a maior lua já vista, foram subitamente bloqueados por um enorme soldado, que avançou, levantou seu tridente e preparou-se para descê-lo sobre Thor. Ele sabia que sua hora havia chegado.

Thor fechou os olhos preparando-se para a morte. Ele nГЈo sentia medo. Apenas pesar. Ele queria mais tempo para estar vivo; ele queria descobrir quem ele era, qual era o seu destino e mais do que tudo, ele queria passar mais tempo com Gwen.

Thor sentia que nГЈo era justo morrer assim. NГЈo ali. NГЈo daquela forma. NГЈo naquele dia. NГЈo era a sua hora ainda. Ele podia sentir isso. Ele ainda nГЈo estava pronto.

De repente, Thor sentiu algo subindo dentro dele: era uma ferocidade, uma força diferente de qualquer outra que ele conhecia. Seu corpo inteiro formigava e ficou quente quando ele sentiu uma nova sensação irrompendo pelas solas dos seus pés e percorrendo suas pernas, seu torso, seus braços, até chegar realmente queimando até as pontas dos dedos, irradiando uma energia que ele mal podia entender. Thor surpreendeu a si mesmo, emitindo um rugido feroz, como o de um dragão surgindo das profundezas da terra.

Thor sentia a força de dez homens pulsando através dele quando ele se livrou do aperto dos soldados e ficou de pé de um salto. Antes que o soldado pudesse baixar o tridente, Thor avançou, agarrou-o pelo seu capacete e deu-lhe uma cabeçada, partindo-lhe o nariz. Então, ele chutou o soldado com tanta força que ele saiu voando de costas, para trás, como se fosse uma bala de canhão, derrubando dez homens.

Thor gritou com uma fГєria recГ©m descoberta quando ele agarrou um soldado, levantou-o bem alto e jogou-o no meio da multidГЈo, derrubando junto com ele uma dГєzia de soldados, como se fossem pinos de boliche. Thor estendeu a mГЈo e agarrou um mangual com uma corrente de trГЄs metros das mГЈos de um soldado. Ele girou-o uma e outra vez, atГ© que se ouviram os gritos de todos ao seu redor, ele estava derrubando todos os soldados em um raio de trГЄs metros, dezenas de eles.

Thor sentia que seu poder continuava a crescer e permitiu que o mesmo se apoderasse dele. Quando vários outros homens o atacaram, ele estendeu a mão e ficou com a palma estendida. Ele ficou surpreso ao sentir um formigamento e, em seguida, ver que uma névoa fria emanava dela. Seus atacantes pararam de repente, cobertos por um lençol de gelo. Eles ficaram congelados no lugar, transformados em blocos de gelo.

Thor virou as palmas das mãos em cada direção e por todas as partes os homens ficaram congelados; parecia que blocos de gelo caíam como chuva por todo o campo de batalha.

Thor virou-se para seus irmãos de armas e viu vários soldados prestes lançar golpes fatais em Reece, O’Connor, Elden e os gêmeos. Ele levantou a palma da mão em cada direção e congelou os atacantes, salvando seus irmãos da morte instantânea. Eles se viraram e olharam para ele, o alívio e a gratidão transbordavam em seus olhos.

O exército McCloud começou a perceber o que estava acontecendo e tornou-se mais cauteloso ao aproximar-se de Thor. Eles começaram a criar um perímetro de segurança em torno dele. Todos aqueles guerreiros estavam receosos de chegar muito perto, pois viam dezenas de seus companheiros congelados em seus postos no campo de batalha.

Mas então houve um rugido e um homem enorme se aproximou, ele era cinco vezes maior que o dos outros. Ele devia ter uns quatro metros de altura e carregava a maior espada que Thor já tinha visto. Thor ergueu a palma da mão para congelá-lo, mas seu poder não funcionou contra aquele homem. Ele simplesmente afastou a energia com um safanão, como se ela fosse um inseto irritante e continuou a avançar para Thor. Thor estava começando a perceber que seu poder era imperfeito, ele estava surpreso e não entendia bem por que ele não era forte o suficiente para deter aquele homem.

O gigante alcançou Thor com três passos longos, surpreendendo Thor com sua velocidade, ele, deu-lhe um tapa com as costas da mão, mandando Thor pelos ares.

Thor caiu duramente no chão e antes que pudesse se virar, o gigante estava sobre ele, levantando-o sobre a sua cabeça com as duas mãos. Ele jogou Thor pelos ares e o exército McCloud gritou em triunfo quando Thor se elevou por cerca de seis metros antes de cair estrondosamente no chão e rolar até poder parar. Thor sentia como se todas as suas costelas estivessem quebrando.

Thor olhou para cima para ver o gigante caindo sobre ele e dessa vez, nГЈo havia mais nada que pudesse fazer. Qualquer que fosse o poder que ele tinha tido, esse poder havia se esgotado.

Ele fechou os olhos.

Por favor, Deus, me ajude.

Quando o gigante se abateu sobre ele, Thor começou a ouvir um zumbido abafado em sua mente; ele crescia e crescia e logo, o zumbido estava fora de sua mente, no universo. Ele sentiu uma estranha sensação, jamais havia sentido isso antes; ele começou a sentir-se em sintonia com a própria matéria, com os elementos do ar, o balanço das árvores e o movimento das folhas da relva. Ele ouvia um grande zumbido em meio a tudo isso e quando ele estendeu a mão, ele sentiu como se estivesse colhendo aquele zumbido de todos os lugares do universo, convocando-o a sua vontade.

Thor abriu os olhos ao ouvir um tremendo zumbido sobre sua cabeça e observou com surpresa como um enxame de abelhas enorme se materializava no céu. Elas chegavam de todos os lados e quando Thor levantou as mãos, ele sentiu que as estava dirigindo. Ele não sabia como ele estava fazendo isso, mas sabia que ele estava dirigindo-as.

Thor moveu suas mãos na direção do gigante e quando ele fez isso, ele viu um enxame de abelhas escurecendo o céu, mergulhando em direção ao campo de batalha e cobrir completamente o gigante. O gigante levantava as mãos e se debatia, ele gritava histérico, as abelhas o cercaram, picando-o mil vezes até que ele dobrou os joelhos e logo depois caiu de cara no solo, já morto. O chão tremeu com o impacto de seu corpo.

Então, Thor dirigiu sua mão para o exército McCloud, o qual se encontrava montado em seus cavalos, olhando para ele e vendo a cena em estado de choque. Eles começaram a voltar-se para fugir, mas não houve tempo para reagir. Thor virou a palma da mão em sua direção e o enxame de abelhas deixou o gigante e começou a atacar os soldados.

O exГ©rcito McCloud soltou um grito de medo e todos seus soldados deram a volta de uma sГі vez e cavalgaram em disparada, eles foram picados inГєmeras vezes pelo enxame. Logo, o campo de batalha ficou vazio jГЎ que eles desapareceram tГЈo rГЎpido quanto podiam. Alguns soldados nГЈo conseguiram escapar a tempo, eles caГ­am um apГіs outro, enchendo o campo de cadГЎveres.

Os sobreviventes continuaram galopando, o enxame os perseguia no horizonte atГ© o outro lado do campo. O grande som do zumbido misturava-se com o tropel dos cascos dos cavalos e dos gritos de medo dos homens.

Thor estava espantado: em poucos minutos, o campo de batalha estava vazio e tranquilo. Tudo o que restava era o gemido dos McCloud feridos, deitados ali aos montões. Thor olhou em volta e viu seus amigos exaustos e respirando com dificuldade. Eles pareciam estar muito machucados e cobertos de ferimentos leves, mas estavam bem; com exceção, é claro, dos três membros da legião que ele não conhecia, os quais estavam ali, mortos.

Houve um grande estrondo no horizonte e Thor se virou para o outro lado e viu o exército do rei, liderado por Kendrick, avançando sobre a colina, correndo em direção a eles. Eles galoparam até eles e em pouco tempo pararam diante de Thor e de seus amigos: os únicos sobreviventes solitários naquele campo sangrento.

Thor ficou parado ali, em estado de choque, olhando para trás enquanto Kendrick, Kolk, Brom e os outros desmontavam e caminhavam lentamente em direção a Thor. Eles estavam acompanhados por dezenas de soldados do Exército Prata, todos grandes guerreiros do Exército do Rei. Eles viram que Thor e os outros estavam ali sozinhos, vitoriosos, no campo de batalha sangrento, repleto de cadáveres de centenas de McClouds. Ele podia ver os seus olhares reverentes, cheios de respeito, de admiração. Ele podia ver isso em seus olhos. Era o que ele tinha desejado toda a sua vida.

Ele era um herГіi.




CAPГЌTULO NOVE


Erec galopava em seu cavalo, correndo pela via do Sul, avançando mais rápido do que nunca, fazendo o que podia para evitar os buracos da estrada na escuridão da noite. Ele não tinha parado de cavalgar desde que tinha sido informado do sequestro de Alistair, informado que ela havia sido vendida como escrava e levada para Baluster. Ele não conseguia parar de repreender a si mesmo. Ele tinha sido estúpido e ingênuo ao acreditar no estalajadeiro e supor que ele manteria sua palavra, que ele respeitaria sua parte do acordo e liberaria Alistair, depois que ele vencesse o torneio. A palavra de Erec era sua honra e ele considerava que a palavra dos outros era sagrada também. Havia sido um erro estúpido e Alistair tinha pagado um preço caro por isso.

O coração de Erec estava partido ao pensar nela. Ele esporou o cavalo com mais força. Pensar que uma bela e requintada senhora, primeiro teve de sofrer a indignidade de trabalhar para aquele estalajadeiro, agora havia sido vendida como escrava e ainda por cima, como escrava sexual. Essa ideia o enfurecia, ele não podia deixar de sentir que de alguma forma, ele era responsável: se ele nunca tivesse aparecido em sua vida, se nunca tivesse se oferecido para levá-la embora, talvez, o estalajadeiro nunca tivesse considerado a possibilidade vendê-la.

Erec avançava noite adentro, o som dos cascos e da respiração de seu cavalo permanecia enchendo seus ouvidos. O cavalo estava mais do que exausto e Erec temia que ele se derrubasse e o atirasse no chão. Depois do torneio, Erec tinha ido diretamente até o dono da pensão, ele não tinha parado para descansar e estava tão cansado, estava esgotado. Ele sentia que simplesmente poderia despencar e cair de seu cavalo a qualquer momento. Mas ele forçou seus olhos a permanecerem abertos, forçou-se a ficar acordado, enquanto cavalgava sob os últimos vestígios da lua cheia, indo sempre para o Sul, para Baluster.

Erec tinha ouvido histórias de Baluster durante toda sua vida, embora fosse um lugar no qual ele nunca tinha estado. Diziam que o lugar era famoso por ser um centro de jogos de azar, de venda e consumo de ópio, sexo e de todos os vícios imagináveis no reino. Era o lugar para onde iam todos os insatisfeitos procedentes de todas as partes do Anel, para explorar todo o tipo de diversão sinistra conhecida pelo homem. Aquele lugar era o oposto da natureza de Erec. Ele nunca apostava e raramente bebia, preferindo passar seu tempo livre desenvolvendo e treinando suas habilidades. Ele não conseguia entender o tipo de pessoas que abraçavam a preguiça e a folia, tal como os frequentadores de Baluster faziam. Ir ali não augurava nada de bom para ele. Nada de bom podia provir dali. Pensar que Alistair se encontrava em um lugar assim fez o seu coração gelar. Ele sabia que tinha de salvá-la rapidamente e levá-la para longe, para bem longe dali, antes que qualquer dano fosse feito.

Quando a lua surgiu no cГ©u e a estrada se alargou e ficou mais transitada, Erec pГґde vislumbrar a cidade: o infindГЎvel nГєmero de tochas que iluminavam suas muralhas fazia com que ela parecesse uma fogueira no meio da noite. Erec nГЈo ficou surpreso, jГЎ que diziam que os habitantes da cidade costumavam ficar despertos atГ© altas horas da noite.

Erec cavalgou mais rapidamente e se aproximou da cidade. Finalmente, ele cavalgou sobre uma pequena ponte de madeira, iluminada por tochas colocadas em cada lado dela, um vigia sonolento cochilava em seu posto, ele deu um pulo quando Erec passou por ele em disparada. O guarda gritou atrás dele: “EI!”

Mas Erec nem sequer diminuiu a marcha. Se o homem tivesse a coragem de persegui-lo, e Erec duvidava que ele se atrevesse a isso, entГЈo Erec se asseguraria de que isso fosse a Гєltima coisa que o guarda faria.

Erec avançou pela grande e ampla entrada da cidade, a qual estava construída em torno de uma praça, cercada por muros de pedra antigos e baixos. Ele entrou na cidade e prosseguiu por suas ruas estreitas tão brilhantes, todas com suas tochas alinhadas. Os edifícios haviam sido construídos bem juntos uns dos outros, dando à cidade uma sensação de pouco espaço, de claustrofobia. As ruas estavam absolutamente lotadas, quase todas as pessoas, pareciam estar bêbadas, elas cambaleavam de um lado para outro, gritavam e berravam, empurrando umas a outras. Tudo era como uma grande festa. Praticamente, cada estabelecimento era uma taverna ou salão de jogos.

Erec sabia que aquele era o lugar certo. Ele podia sentir a presença de Alistair ali, em algum lugar. Ele engoliu em seco, esperando que não fosse tarde demais.

Ele cavalgou para o que parecia ser particularmente uma grande taverna, no centro da cidade. Uma multidão de pessoas estava aglomerada do lado de fora e Erec achou que aquele seria um bom lugar para começar.

Erec desmontou do cavalo e correu para dentro, acotovelando a multidГЈo de pessoas agitadas pela bebida ao abrir seu caminho atГ© o estalajadeiro. O dono do lugar estava na parte de trГЎs, no centro da sala, anotando o nome das pessoas e tomando suas moedas antes de conduzi-las atГ© os quartos. Era um sujeito de aparГЄncia suja, com um sorriso falso, ele suava e esfregava as mГЈos enquanto contava suas moedas. Ele olhou para Erec com um sorriso artificial no rosto.

“Deseja um quarto, senhor?” Ele perguntou. “Ou é uma mulher o que deseja?”

Erec balançou a cabeça e chegou perto do homem, querendo ser ouvido em meio ao burburinho.

“Estou procurando por um mercador.” Erec disse. “Um mercador de escravos. Ele cavalgou até aqui desde Savária, há um ou dois dias atrás. Ele trouxe uma carga preciosa. Carga humana.”

O homem lambeu seus lГЎbios.

“O que você procura é uma informação valiosa.” Disse o homem. “Eu posso prover essa informação, tão facilmente como eu posso fornecer um quarto.”

O homem esfregou as mГЈos e estendeu a palma da mГЈo. Ele olhou para Erec e sorriu, o suor brotava sobre o seu lГЎbio superior.

Erec estava repugnado por aquele homem, mas ele desejava obter informações e não queria perder tempo. Então, ele enfiou a mão no bolso, tirou uma grande moeda de ouro dali e colocou-a na mão do homem.

O homem arregalou os olhos ao examinar a moeda.

“Ouro do Rei.” Ele observou impressionado.

Ele olhou para Erec de cima a baixo, com um olhar de respeito e admiração.

“Então você cavalgou todo o caminho da Corte do Rei?” Ele perguntou.

“Já basta.” Erec disse. “Sou eu quem faz as perguntas aqui. Eu já lhe paguei. Agora me diga: Onde está o mercador?”

O homem lambeu os lábios várias vezes e então se debruçou, chegando mais perto.

“O homem que você procura é Erbot. Ele vem por aqui uma vez por semana com um novo lote de prostitutas. Ele as leiloa a quem der o melhor lance. É provável que você o encontre no seu antro. Siga esta rua até o fim, o estabelecimento dele fica lá. Mas se a menina que você procura tem algum valor, ela provavelmente já se foi. As prostitutas não duram muito tempo por lá.”

Erec virou-se para ir embora, quando sentiu uma mГЈo quente e Гєmida agarrar seu pulso. Ele virou-se surpreso ao ver o estalajadeiro agarrando-o.

“Se for prostitutas o que você procura, por que não tenta uma das minhas? Elas são simplesmente tão boas quanto as dele e eu cobro a metade do preço.”

Erec olhou para o homem com desprezo, revoltado. Se ele tivesse mais tempo, ele provavelmente iria matá-lo, só para livrar o mundo de alguém assim. Mas ele avaliou melhor o homem e viu que ele não era digno de tanto esforço.

Erec se desvencilhou de sua mГЈo, entГЈo se inclinou para perto dele.

“Ponha suas mãos em mim novamente…” Erec advertiu. “… E você vai desejar jamais ter feito isso. Agora, dê dois passos para trás de mim antes que eu encontre um lindo lugar para meter este florete que está em minha mão.”

O estalajadeiro olhou para baixo, arregalou os olhos com medo e deu vГЎrios passos para trГЎs.

Erec virou-se e saiu da sala, acotovelando e empurrando os clientes para fora do seu caminho, ao atravessar a porta dupla. Ele nunca tinha estado tГЈo enojado com a humanidade.

Erec montou em seu cavalo, o qual antes estava empinando e bufando para alguns transeuntes bêbados que estavam, sem dúvida, de olho nele. Erec calculou que tinham intenções de tentar roubá-lo. Ele se perguntou se eles teriam realmente tentado roubar o cavalo se ele não tivesse retornado antes. Erec recordou a si mesmo que ele deveria amarrar seu cavalo com mais segurança, da próxima vez. Ele estava perplexo com os vícios daquela cidade. Ainda assim, seu cavalo, Warkfin, era um cavalo de batalha bastante bravo e se alguém tentasse roubá-lo, ele iria pisoteá-lo até a morte.

Erec apertou Warkfin com os calcanhares e eles avançaram pela rua estreita, Erec fazia todo o possível para evitar as multidões de pessoas. Era tarde da noite, mas as ruas pareciam tornar-se cada vez mais apinhadas com as massas humanas, pessoas de todas as raças se misturavam ali. Vários clientes bêbados gritaram para Erec enquanto ele passava por eles muito rapidamente, mas ele não se importou. Ele podia sentir que Alistair estava ao alcance e nada iria detê-lo até que ele a tivesse de volta.

A rua terminava em uma parede de pedra e o Гєltimo prГ©dio Г  direita era uma taverna com paredes inclinadas de barro branco a ponto de ruir e um telhado de palha que parecia jГЎ ter visto melhores dias. A julgar pela aparГЄncia das pessoas que entravam e saГ­am dela, Erec deduziu que aquele era o lugar certo.

Erec desmontou, amarrou seu cavalo a um poste com total segurança e irrompeu pela porta. Quando ele entrou, parou no meio do caminho, surpreso.

O local estava mal iluminado, era uma grande sala com algumas tochas nas paredes e um fogo morrendo na lareira num canto mais distante. Havia tapetes espalhados por toda parte, sobre os quais estavam deitadas dezenas de mulheres seminuas, elas estavam atadas entre si e Г s paredes com grossas cordas. Todas elas pareciam estar drogadas. Erec podia sentir o cheiro do Гіpio no ar e viu um cachimbo que estava sendo passado ao redor. Alguns homens bem vestidos caminhavam pela sala, chutando e empurrando os pГ©s das mulheres aqui e ali, como se estivessem testando a mercadoria e decidindo o que comprar.

No canto mais distante da sala estava um homem em uma pequena cadeira de veludo vermelho, vestindo um robe de seda, havia mulheres acorrentadas a ambos os lados dele. De pГ©, atrГЎs dele, havia homens enormes, musculosos, com os rostos cobertos de cicatrizes, mais altos e mais largos do que o prГіprio Erec. Eles pareciam encantados com a possibilidade de matar alguГ©m.

Erec analisava a cena e percebia exatamente o que estava acontecendo: aquele lugar era um antro de sexo, aquelas mulheres eram garotas de aluguel e o homem no canto era o cafetГЈo, o homem que tinha lhe arrebatado Alistair e que provavelmente tinha feito o mesmo com todas aquelas mulheres tambГ©m. Erec percebeu que atГ© mesmo Alistair podia estar naquela sala, naquele exato momento.

Ele entrou em ação, percorrendo freneticamente os corredores repletos de mulheres e examinando todos os seus rostos. Havia várias dezenas de mulheres naquela sala, algumas delas desmaiadas. A penumbra do lugar era tanta que era difícil identificar alguém. Ele olhava um rosto após o outro, andando entre as filas de mulheres, quando de repente, a palma de uma mão enorme bateu no seu peito.

“Você já pagou?” Disse uma voz resmungona.

Erec olhou para cima e viu um homem enorme e carrancudo de pГ©, diante dele.

“Quer olhar para as mulheres? Então pague.” O homem disse com sua voz grave. “Essas são as regras.”

Erec devolveu-lhe um olhar de desprezo, sentindo um Гіdio subindo dentro dele, e, em seguida, mais rГЎpido do que o homem pudesse piscar, ele estendeu a mГЈo e golpeou fortemente a traqueia dele com a palma da mГЈo. O homem ficou sufocado e arregalou os olhos, em seguida, caiu de joelhos, apertando sua garganta. Erec estendeu a mГЈo e deu-lhe uma cotovelada na tГЄmpora, logo, o homem caiu de cara no chГЈo.

Erec caminhou rapidamente entre as fileiras, de mulheres examinando os rostos e buscando desesperadamente Alistair, mas ela nГЈo estava Г  vista. Ela nГЈo estava ali.

O coração de Erec martelava, ele correu para o canto da sala, para o homem mais velho que estava sentado no canto olhando por cima de tudo.

“Encontrou algo que lhe agrade?” Perguntou o homem. “Algo que deseja leiloar?”

“Eu estou procurando uma mulher.” Erec começou a falar com sua voz fria como o aço, tentando manter a calma. “… E eu vou dizer isso apenas uma vez. Ela é alta, com longos cabelos loiros e olhos azuis esverdeados. O nome dela é Alistair. Ela foi trazida de Savária há um ou dois dias atrás. Disseram-me que ela foi trazida para cá. É verdade?”

O homem balançou lentamente a cabeça, sorrindo.

“Eu lamento que a propriedade que você procura já tenha sido vendida.” O homem disse. “Um belo exemplar, deveras. Você tem bom gosto. Escolha outra, e eu lhe darei um bom desconto.”

Erec franziu o cenho, sentindo uma raiva dentro dele diferente de tudo que ele jГЎ havia sentido.

“Quem a levou?” Erec rosnou.

O homem sorriu.

“Minha nossa, você parece obcecado por essa escrava em particular.”

“Ela não é uma escrava.” Erec rosnou. “Ela é minha esposa.”

O homem olhou para ele chocado, então de repente jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada.

“Sua esposa! Essa é boa. Já não mais, meu amigo. Agora ela é o brinquedinho de outro.” Então o rosto do cafetão ficou sombrio e fechou-se em uma carranca malvada quando ele fez um gesto para seus capangas e ordenou:

– Agora, livrem-se deste pedaço de lixo.

Os dois homens musculosos vieram para a frente com uma velocidade que surpreendeu Erec, ambos se lançaram de uma vez sobre ele estendendo a mão para agarrar o seu peito.

Mas eles não tinham ideia de quem eles estavam atacando. Erec era mais rápido do que os dois, ele os esquivou, agarrou o pulso de um deles e dobrou seu braço até que o homem caiu de costas no chão, tudo isso ao mesmo tempo em que dava uma cotovelada na garganta do outro. Erec adiantou-se e esmagou a traquéia do homem que estava derrubado no chão, então ele inclinou-se para frente e deu uma cabeçada no outro homem que ainda estava com as mãos na garganta, deixando-o fora de combate também.

Os dois homens jaziam ali inconscientes, Erec passou por cima de seus corpos indo ao encontro do estalajadeiro, que agora estava balançando na cadeira com os olhos arregalados de medo.

Erec estendeu a mão, agarrou o homem pelos cabelos, puxou a cabeça dele para trás e pressionou um punhal contra sua garganta.

“Diga-me onde ela está e talvez eu deixe você vivo.” Erec rosnou.

O homem gaguejou.

“Eu vou dizer, mas você está perdendo seu tempo.” Ele respondeu. “Eu a vendi para um lorde. Ele tem sua própria força de cavaleiros e vive em seu próprio castelo. Ele é um homem muito poderoso. Seu castelo nunca foi invadido. E, além disso, ele tem um exército inteiro a sua disposição. Ele é um homem muito rico e tem um exército de mercenários dispostos a fazer sua vontade em qualquer momento. Qualquer garota que ele compra, ele a mantém. Não há nenhuma maneira de que você a liberte. Então, volte para o lugar de onde você veio, seja ele qual for. Ela se foi.”

Erec pressionou o punhal, apertando-o mais contra a garganta do homem até que ela começou a sangrar, o homem gritou.

“Onde está esse lorde?” Erec rosnou, perdendo a paciência.

“Seu castelo está ao oeste da cidade. Pegue a porta ocidental da cidade e vá até o fim da estrada. Você vai ver o seu castelo. Mas é um desperdício de tempo. Ele pagou um bom dinheiro por ela, mais do que ela valia.”

Erec estava farto daquilo. Sem vacilar, ele cortou a garganta daquele traficante de escravas brancas, matando-o. O sangue jorrou por todas as partes quando o homem se deixou cair em seu assento, morto.

Erec olhou para o cadГЎver, para os capangas inconscientes e sentiu-se revoltado com o que via naquele lugar sГіrdido. Ele nГЈo podia acreditar que existisse um lugar semelhante.

Erec atravessou a sala e começou a cortar as cordas que atavam todas as mulheres, cortando os fios grossos e libertando-as, uma de cada vez. Várias mulheres pularam e correram para a porta. Logo todas as mulheres da sala estavam soltas e todas se dirigiam para a porta. Algumas estavam muito drogadas para se mover e eram ajudadas pelas outras.

“Seja quem você for…” Disse uma mulher para Erec, parando na porta. “… Que Deus o abençoe. E aonde quer que você vá, que Deus o ajude.”

Erec apreciou a gratidão e a bênção dela. Ele tinha a triste sensação de que ele ia precisar disso, no lugar para onde ele estava indo.




CAPГЌTULO DEZ


A aurora rompeu, derramando-se atravГ©s das pequenas janelas da cabana de Illepra e caindo sobre os olhos fechados de Gwendolyn, despertando-a lentamente. O primeiro sol de um laranja suave a acariciava, acordando-a no silГЄncio da madrugada. Ela piscou vГЎrias vezes, a princГ­pio desorientada, perguntando-se onde ela estava. E entГЈo ela se deu conta:

Godfrey.

Gwen tinha adormecido no chão da casa, deitada em uma cama de palha perto da cabeceira da cama de Godfrey. Illepra dormia ao lado dele. Tinha sido uma longa noite para os três. Godfrey tinha gemido durante toda a noite, dando voltas na cama e Illepra havia cuidado dele incessantemente. Gwen estava ali para ajudar de qualquer maneira possível. Ela trazia panos molhados, colocava-os na testa de Godfrey e trocava-os quando necessário, além de entregar a Illepra as ervas e pomadas que ela pedia-lhe continuamente. A noite parecia interminável, Godfrey tinha gritado muitas vezes e Gwen estava certa de que ele estava morrendo. Mais de uma vez ele tinha chamado seu pai e isso tinha lhe provocado calafrios. Ela sentiu a presença de seu pai pairando intensamente sobre eles. Ela não sabia se seu pai desejaria que seu filho vivesse ou morresse, já que sua relação com Godfrey tinha sido sempre tão cheia de tensão.

Gwen também tinha dormido na casa de campo porque ela não sabia mais para onde ir. Ela não se atrevia a voltar ao castelo e ficar sob o mesmo teto com seu irmão; ela se sentia mais segura ali, sob os cuidados de Illepra, com Akorth e Fulton montando guarda do lado de fora da porta. Ela estava contente com a ideia de que ninguém sabia onde ela estava e queria continuar assim. Além disso, ela havia se afeiçoado a Godfrey naqueles últimos dias, tinha descoberto o irmão que ela nunca tinha conhecido e era doloroso para ela pensar que ele estava morrendo.

Gwen ficou de pé e correu para o lado de Godfrey, seu coração batia forte, ela se perguntava se ele ainda estava vivo. Uma parte dela sentia que se ele acordasse pela manhã, ele sobreviveria. Por outro lado, se ele não acordasse, seria o fim dele. Illepra despertou e correu para o lado dele também. Ela devia ter caído no sono em algum momento durante a noite. Gwen não podia culpá-la.

As duas se ajoelharam ali, ao lado de Godfrey, enquanto a pequena cabana se enchia de luz. Gwen colocou a mГЈo no pulso de Godfrey e o apertou. Illepra estendeu a mГЈo e colocou-a sobre a testa dele. Ela fechou os olhos e respirou. De repente, os olhos de Godfrey se abriram. Illepra puxou a mГЈo de volta, surpresa.

Gwen estava surpresa tambГ©m. Ela nГЈo esperava ver Godfrey abrir os olhos. Ele se virou e olhou diretamente para ela.

“Godfrey?” Ela perguntou.

Ele entrecerrou os olhos, fechou-os e os abriu novamente. EntГЈo, para surpresa de Gwen, ele se apoiou em um cotovelo e olhou para elas.

“Que horas são?” Ele perguntou. “Onde eu estou?”

Sua voz soou alerta, saudГЎvel e Gwen nunca havia se sentido tГЈo aliviada. Ela abriu um sorriso enorme, junto com Illepra.

Gwen se lançou para frente e abraçou-o com força, logo ela se afastou.

“Você está vivo!” Ela exclamou.

“Claro que eu estou.” Ele disse. “Por que eu não haveria de estar? Quem é ela?” Ele perguntou, virando-se para Illepra.

“Ela é a mulher que salvou sua vida.” Gwen respondeu.

“Salvou minha vida?”

Illepra olhava para o chГЈo.

“Eu apenas ajudei um pouquinho.” Ela disse humildemente.

“O que aconteceu comigo?” Ele perguntou a Gwen, agitado. “A última coisa de que me lembro era que eu estava bebendo na taverna e então…”

“Você foi envenenado.” Illepra disse. “Um veneno muito raro e forte. Fazia anos que eu não encontrava esse veneno. Você tem sorte de estar vivo. Na verdade, você é a única pessoa que eu já vi sobreviver a ele. Alguém deve ter estado velando por você.”

Ao ouvir suas palavras, Gwen sabia que ela estava certa, ela imediatamente pensou em seu pai. Os raios do sol banhavam as janelas com sua luz cada vez mais forte e Gwen sentiu a presença de seu pai ali com eles. Ele tinha desejado que Godfrey vivesse.

“Bem feito.” Gwen disse com um sorriso. “Você tinha prometido que deixaria a bebida. Agora veja o que aconteceu.”

Ele virou-se e sorriu para ela. Ela viu a vida de volta em seu rosto e se sentiu inundada pelo alГ­vio. Godfrey estava de volta.

“Você salvou minha vida.” Ele disse a ela, sinceramente.

Ele dirigiu-se a Illepra.

“Ambas me salvaram.” Ele acrescentou. “Não sei como poderei recompensá-las.”

Quando ele olhou para Illepra, Gwen percebeu algo. Havia algo em seu olhar, algo mais do que gratidГЈo. Gwen virou-se e olhou para Illepra, notou que ela estava corada e olhava para o chГЈo. Gwen percebeu que eles gostavam um do outro.

Illepra rapidamente virou-se e atravessou a sala, dando as costas a eles, ocupando-se com uma poção.

Godfrey olhou novamente para Gwen.

“Gareth?” Ele perguntou de repente, muito sério.

Gwen assentiu, entendendo o que ele estava perguntando.

“Você tem sorte de não estar morto.” Disse ela. “Firth está.”

“Firth?” Godfrey levantou a voz, surpreso. “Morto? Mas como?”

“Ele foi enforcado.” Disse ela. “Você seria o seguinte.”

“E você?” Godfrey perguntou.

Gwen deu de ombros.

“Ele tem planos de casar-me. Ele me vendeu aos Nevaruns. Aparentemente, eles estão vindo  para me levar.”

Godfrey sentou-se, indignado.

“Eu jamais permitirei isso!” Ele exclamou.

“Nem eu.” Ela respondeu. “Eu vou encontrar uma saída.”

“Mas sem Firth, não temos nenhuma evidência.”Ele disse. “Nós não temos nenhuma maneira de derrotá-lo. Gareth permanecerá livre.”

“Nós encontraremos uma solução.” Ela respondeu. “Nós encontraremos uma saída…

De repente, a cabana encheu-se de luz quando a porta se abriu e Akorth e Fulton entraram apressados.

“Alteza. Akorth começou então se virou ao ver Godfrey.

“Seu filho da mãe!” Akorth gritou de alegria para Godfrey. “Eu sabia! Você trapaceia em quase tudo na vida, eu sabia que você ia enganar a morte também!”

“Eu sabia que nenhuma jarra de cerveja seria capaz de levá-lo ao túmulo!” Fulton acrescentou.

Akorth e Fulton se atropelaram para abraçar Godfrey quando ele pulou da cama. Todos eles se abraçaram.

Em seguida, Akorth muito sГ©rio, virou-se para Gwen.

“Minha senhora, desculpe incomodá-la, mas vimos um contingente de soldados no horizonte. Eles estão vindo até nós, agora mesmo.”

Gwen olhou para eles alarmada, em seguida, correu para fora, seguida por todos eles, ela abaixou a cabeça e apertou os olhos na forte luz solar.

O grupo ficou do lado de fora, Gwen olhou para o horizonte e viu um pequeno grupo de soldados do Exército Prata cavalgando para a cabana. Uma meia dúzia de homens avançava a toda a velocidade e não havia nenhuma dúvida de que estavam correndo até eles.

Godfrey estendeu a mГЈo para puxar sua espada, mas Gwen colocou uma mГЈo reconfortante em seu pulso.

“Estes não são os homens de Gareth, eles são os homens de Kendrick. Eu estou certa de que eles vêm em paz.”

Os soldados chegaram atГ© eles e, imediatamente, desmontaram de seus cavalos e se ajoelharam diante de Gwendolyn.

“Alteza.” Disse o líder dos soldados. “Nós lhe trazemos uma grande notícia. Nós temos repelido o ataque dos McClouds! Seu irmão Kendrick está a salvo e ele me pediu para dar-lhe uma mensagem: Thor se encontra bem.”

Gwen começou a chorar com a notícia, dominada pela gratidão e pelo alívio. Ela deu um passo para frente e abraçou Godfrey, quem a abraçou de volta. Ela sentia que a vida havia brotado novamente dentro dela.

“Todos deverão regressar hoje.” O mensageiro continuou. “Haverá uma grande festa na Corte do Rei!”

“Excelentes notícias, realmente!” Gwen exclamou.

“Minha senhora.” Ouviu-se uma voz profunda. Gwen olhou para ver um senhor, um guerreiro de renome, Srog, vestido com o vermelho característico do Oeste, um homem que ela conhecia desde a juventude. Ele tinha sido amigo de seu pai. Ele ajoelhou-se diante dela e ela sentiu-se envergonhada.

“Por favor, senhor.” Ela disse. “… Não se ajoelhe diante de mim.”

Ele era um homem famoso, um poderoso lorde que tinha milhares de soldados os quais respondiam a ele e ele governava sua prГіpria cidade, SilГ©sia, a fortaleza do Oeste, uma cidade incomum, construГ­da bem em cima de um penhasco, Г  beira do Canyon. Ela era quase impenetrГЎvel. Ele era um dos poucos homens em quem seu pai havia confiado.

“Eu cavalguei até aqui com estes homens, porque ouvi dizer que grandes mudanças estão agitando a Corte do Rei.” Disse ele com conhecimento de causa. “O trono está instável. Um novo governante – um governante firme, um verdadeiro governante – deve ser colocado em seu lugar. Eu fui informado de que o desejo de seu pai era que Vossa Alteza reinasse. Seu pai era como um irmão para mim e sua palavra era uma ordem para mim. Se for esse o seu desejo, então é o meu também. Eu vim aqui para que Vossa Alteza saiba que, se Vossa alteza governar, então os meus homens vão lhe jurar lealdade. Peço-lhe para agir com rapidez. Os acontecimentos de hoje têm provado que a Corte do Rei precisa de um novo governante.”

Gwen ficou lá, surpresa, quase sem saber como reagir. Ela sentia uma enorme humildade e ao mesmo tempo um sentimento de orgulho, mas ela também se sentia oprimida, sobrecarregada, era demais para sua cabeça.

“Obrigada, senhor.” Disse ela. “Eu sou grata por suas palavras e por sua oferta. Eu meditarei profundamente nelas. Por enquanto, tudo o que desejo é dar as boas vindas ao meu irmão e a Thor.”

Srog curvou sua cabeça e uma corneta soou no horizonte. Gwen olhou para cima e já podia ver a nuvem de poeira: um grande exército estava aparecendo. Ela levantou uma mão para bloquear a luz do sol e seu o coração disparou. Mesmo dali, ela podia sentir quem era. Eram o Exército Prata e os homens do rei.

E cavalgando a sua frente estava Thor.




CAPГЌTULO ONZE


Thor cavalgava com o exército, milhares de soldados marchavam uniformemente em direção a Corte do Rei e ele se sentia triunfante. Ele ainda não podia processar o que tinha acontecido, estava orgulhoso do que ele tinha feito: estava orgulhoso porque não tinha cedido ao medo quando as coisas pareciam estar em seu ponto mais baixo na batalha, ele tinha ficado e enfrentado aqueles guerreiros. Ele ainda não podia acreditar que, de alguma maneira, ele tinha sobrevivido.

Toda a batalha parecia tão surreal, ele estava tão agradecido por ter sido capaz de usar seus poderes, mas ao mesmo tempo, ele também estava confuso, já que seus poderes não funcionavam sempre. Ele não os entendia, e pior ainda, ele não sabia de onde vinham ou então como controlá-los. Isso o fez perceber que mais do que nunca, ele devia aprender a apoiar-se em suas habilidades humanas também e tratar de ser um melhor lutador, o melhor guerreiro que ele pudesse ser. Ele estava começando a perceber que para ser um melhor guerreiro, ele precisaria de ambas as partes de si mesmo: a parte do lutador e a parte do feiticeiro, se é que ele realmente era isso.

Eles cavalgaram toda a noite, de regresso à Corte do Rei e Thor agora estava cansado além da exaustão, mas também estava alegre. O primeiro sol estava raiando no horizonte e ele sentia como se estivesse vendo o mundo pela primeira vez, ao ter diante de si a vasta imensidão do céu aberto com seus tons de amarelos e rosa. Thor nunca tinha se sentido tão vivo. Ele estava rodeado por seus amigos, Reece, O’Connor, Elden e os gêmeos; além de Kendrick, Kolk, Brom e centenas de membros da Legião, O Exército Prata e o Exército do Rei. Mas, em vez de estar na periferia da Corte, agora ele cavalgava pelo centro, abraçado por todos eles. Na verdade, todos eles olhavam para ele de forma diferente desde a batalha. Agora, ele via a admiração nos olhos não apenas de seus colegas membros da Legião, mas também nos olhos dos guerreiros veteranos. Ele havia enfrentado todo o exército McCloud sozinho e tinha virado a maré da guerra.

Thor estava feliz por não ter desapontado nenhum de seus irmãos da Legião. Ele estava feliz pelo fato de que a maioria de seus amigos tinha escapado ilesa e sentia pesar por aqueles que tinham morrido na batalha. Ele não os conhecia, mas ele desejava poder tê-los salvado também. Tinha sido uma batalha sangrenta feroz e mesmo agora, enquanto Thor cavalgava, cada vez que ele piscava os olhos, as imagens dos combates, das várias armas e dos guerreiros que tinham se lançado contra ele, passavam por sua cabeça. Os McClouds eram pessoas violentas e Thor tinha tido sorte, quem sabe se ele teria a mesma sorte se eles se encontrassem novamente. Quem sabe se ele seria capaz de invocar esses poderes novamente. Ele não sabia se eles alguma vez voltariam. Ele precisava de respostas. E ele precisava encontrar sua mãe. Ele precisava saber quem ele realmente era. Ele precisava buscar Argon.

Krohn choramingou atrás dele, Thor se inclinou para trás e acariciou sua cabeça enquanto Krohn lambia-lhe a palma da mão. Thor estava aliviado ao ver que Krohn estava bem. Thor o havia tirado do campo de batalha e o pôs sobre o dorso de seu cavalo, de modo que Krohn ficasse atrás dele; Krohn parecia ser capaz de andar, porém Thor queria que ele descansasse e se recuperasse para a longa viagem de volta. O golpe que ele havia sofrido havia sido muito forte. Thor achava que ele poderia ter quebrado uma costela. Thor mal conseguia expressar sua gratidão a Krohn, o qual era considerado por Thor mais como um irmão do que um animal, Krohn tinha salvado sua vida mais de uma vez.

Quando eles subiram por uma colina e a vista do reino se estendeu diante deles, Thor pôde ver a seus pés a gloriosa cidade da Corte do Rei, com dezenas de torres e pináculos; com as suas antigas muralhas de pedra; sua enorme ponte levadiça e suas portas em arco; com centenas de soldados de guarda sobre os parapeitos das muralhas e suas estradas contornadas por vastas extensões de terras agrícolas. Tudo isso sem mencionar, é claro o castelo do rei em seu centro. Thor pensou imediatamente em Gwen. Ela tinha lhe dado forças na batalha; ela havia lhe dado razão e propósito para viver. Pensar que ele tinha sido enviado para uma armadilha lá fora, que ele tinha sido emboscado. Thor, de repente, temia pelo destino dela também. Ele esperava encontrá-la bem ao regressar. Quaisquer que fossem as forças que tinham posto em marcha sua traição, elas haviam falhado, já que ele havia saído ileso.

Thor ouviu gritos de alegria à distância, viu algo brilhando na luz, e, quando ele forçou a vista no topo da colina, ele percebeu que havia uma grande multidão no horizonte, ela estava se formando diante da Corte do Rei e bordejava a estrada e agitava bandeiras. Um grande número de pessoas ia saindo para cumprimentá-los.

AlguГ©m tocou uma corneta e Thor percebeu que todos estavam dando-lhes as boas-vindas a casa. Pela primeira vez em sua vida, ele nГЈo se sentia como um estranho.

“As cornetas, elas soam para você.” Disse Reece, cavalgando ao lado dele, dando um tapinha nas costas dele, olhando-o com um novo respeito. “Você é o campeão dessa batalha. Você é o herói do povo agora.”

“Imaginem, um de nós, um mero membro da Legião, repelindo todo o Exército McCloud.” O’Connor acrescentou com orgulho.

“Você prestou uma grande honra para toda a Legião.” Disse Elden. “Agora eles vão ter de nos levar muito mais a sério.”

“Sem mencionar que você salvou todas as nossas vidas.” Conval acrescentou.

Thor encolheu os ombros, cheio de orgulho, mas ao mesmo tempo recusando-se a permitir que tudo isso lhe subisse à cabeça. Ele sabia que ele era humano, frágil e vulnerável como qualquer um deles. Ele sabia que o curso da batalha poderia ter sido bem diferente.

“Eu apenas fiz o que fui treinado para fazer.” Thor respondeu. “O que todos nós fomos treinados para fazer. Eu não sou melhor do que ninguém. Eu apenas tive sorte nesse dia.”

“Eu devo dizer que foi muito mais do que sorte.” Reece respondeu.

Todos eles continuaram em um trote lento, descendo a estrada principal em direção à Corte do Rei. Enquanto o faziam, a estrada começou a encher-se de pessoas que se espalhavam ali, provenientes do campo, aplaudindo, agitando as bandeiras reais azuis e amarelas dos MacGils. Thor percebeu que tudo estava se transformando em um completo desfile. Toda a corte tinha saído para celebrar sua chegada e ele podia ver o alívio e a alegria em seus rostos. Ele podia entender o porquê: se o exército McCloud tivesse chegado mais perto, poderia ter destruído tudo aquilo.

Thor cavalgava com os outros, através da multidão de pessoas, fazendo ecoar os cascos dos cavalos sobre a ponte levadiça de madeira. Eles passaram pelo portão de pedra em forma de arco, logo passaram pela escura passagem subterrânea, para em seguida, encontrar-se do outro lado, onde foram recebidos e ovacionados pelas massas, na Corte do Rei. Elas agitavam bandeiras e atiravam caramelos. Uma banda de músicos começou a tocar, fazendo soar os címbalos e batendo os tambores, enquanto as pessoas começaram a dançar nas ruas.

Thor desmontou com os outros quando a multidão ficou espessa demais para permitir-lhes cavalgar. Ele estendeu a mão e ajudou Krohn a descer do cavalo. Ele observou cuidadosamente quando Krohn mancou um pouco e logo depois começou a caminhar; ele parecia andar normalmente agora e Thor sentiu-se aliviado. Krohn virou-se e lambeu a palma da mão de Thor várias vezes.

O seu grupo atravessou a Praça Real, logo, Thor foi abraçado por todos os lados por pessoas que ele não conhecia.

“Você nos salvou!” Um homem mais velho exclamou. “Você libertou o nosso reino!”

Thor queria responder, mas não podia, sua voz foi abafada pelo barulho de centenas de pessoas aplaudindo e gritando em volta deles, junto com o volume da música que subia mais e mais. Logo, barris de cerveja foram trazidos para o campo e as pessoas começaram a beber, rir e cantar.

Mas Thor só tinha uma coisa em mente: Gwendolyn. Ele tinha de vê-la. Ele examinou todos os rostos, desesperado por um vestígio dela, certo de que ela estaria ali. No entanto, ele se sentia destroçado ao ver que não conseguia encontrá-la.

EntГЈo, ele sentiu um toque no ombro.

“Eu acho que a mulher que você está procurando está por ali…” Disse Reece, virando-se e apontando para o outro lado.

Thor se virou e seus olhos se iluminaram. Ali estava Gwendolyn caminhando rapidamente em direção a ele, com um enorme sorriso de alívio no seu rosto. Ela parecia ter passado a noite em claro.

Ela parecia mais bonita do que nunca. Ela correu em direto para os braços de Thor. Ela pulou e abraçou-o e ele a abraçou de volta, com força, girando-a no meio da multidão. Ela se agarrou a ele e não o soltava. Thor podia sentir as lágrimas dela escorrendo pelo seu pescoço. Ele podia sentir todo o seu amor, e ele o correspondia.

“Graças a Deus você está vivo.” Ela disse regozijante.

“Eu não pensei em nada além de você.” Thor respondeu, segurando-a firmemente. Quando ele a segurava em seus braços, tudo parecia estar bem no mundo novamente.

Lentamente, ele a soltou, ela olhou fixamente para ele, entГЈo eles se inclinaram e se beijaram. Eles ficaram beijando-se por um longo tempo, a multidГЈo ficou a girar em volta deles.

“Gwendolyn!” Reece gritou de alegria.

Ela virou-se e abraçou-o, em seguida, Godfrey se aproximou e abraçou Thor, logo foi a vez de seu irmão Reece. Era uma grande reunião familiar e Thor de alguma forma se sentia parte dela, como se aquela já fosse toda a sua família. Todos eles estavam unidos pelo seu amor por MacGil e pelo seu ódio por Gareth.

Krohn avançou e saltou em cima de Gwendolyn, ela se inclinou para trás com um sorriso e abraçou-o enquanto ele lambia seu rosto.

“Você está maior a cada dia que passa!” Ela exclamou. “Como posso agradecer-lhe por manter Thor a salvo?”

Krohn pulava em cima dela vez apГіs vez, atГ© que, finalmente, rindo, ela teve dar-lhe uns tapinhas carinhosos.

“Vamos sair deste lugar.” Gwen disse a Thor, enquanto era empurrada por todos os lados pela multidão espessa. Ela estendeu sua mão e pegou a mão dele.

Thor estendeu a mão e tomou a mão dela, ele estava prestes a segui-la quando, de repente, vários guerreiros do Exército Prata vieram por trás dele, o levantaram no ar, sobre suas cabeças e o colocaram sobre seus ombros. Quando Thor subiu no ar, a multidão deu um grande grito de alegria.

“THORGRIN!” A multidão aclamou.

Giraram Thor ao redor vГЎrias vezes e logo meteram uma jarra de cerveja em sua mГЈo. Ele se inclinou para trГЎs e bebeu dela, a multidГЈo aplaudiu com uma alegria selvagem.

Thor foi baixado abruptamente, ele tropeçou, rindo enquanto a multidão o abraçava.

“Nós nos dirigimos agora para o banquete da vitória.” Disse um guerreiro que Thor não conhecia, um membro do Exército Prata. Ele lhe deu uns tapinhas nas costas com sua mão musculosa. “É um banquete apenas para os guerreiros. Para os homens. Você vai se juntar a nós. Haverá um local reservado para você na mesa. Para você e para vocês também.” Disse ele, voltando-se para Reece, O’Connor e os amigos de Thor. “Vocês são homens agora. E vocês vão se juntar a nós.”

A alegria aumentava enquanto todos eles eram agarrados e arrastados pelos membros do ExГ©rcito Prata. Thor conseguiu desvencilhar-se no Гєltimo segundo e virou-se para Gwen, ele sentia-se culpado e nГЈo queria desapontГЎ-la.

“Vá com eles.” Ela disse abnegadamente. “É importante que você faça isso… festeje com os seus irmãos. Comemore com eles. É uma tradição entre o Exército Prata. Você não deve perdê-la. Mais tarde, esta noite, me encontre na porta traseira do Salão de Armas. Então, nós vamos estar juntos.”

Thor se inclinou e beijou-a uma Гєltima vez, segurando-a enquanto podia, atГ© que ele foi puxado por seus companheiros.

“Eu amo você.” Ela disse para ele.

“Eu também a amo.” Ele respondeu com uma seriedade maior do que ela poderia compreender.

Tudo em que ele podia pensar, enquanto era arrastado, enquanto observava aqueles belos olhos tГЈo cheios de amor por ele, era que ele queria, mais do que qualquer coisa, pedi-la em casamento, para fazГЄ-la sua para sempre. Aquele nГЈo era o momento apropriado, mas em breve seria, ele disse para si mesmo.

Talvez fosse naquela noite.




CAPГЌTULO DOZE


Gareth estava em seu quarto, olhando pela janela, sob a luz do romper da aurora que banhava a Corte do Rei. Ele observava as massas reunidas abaixo e seu estômago dava voltas. No horizonte via-se materializado o seu pior medo, a própria imagem do que ele mais temia: o exército do rei retornando triunfante, vitorioso de seu combate com os McClouds. Kendrick e Thor cavalgavam no comando, livres, heróis viventes. Seus espiões já o haviam informado de tudo o que tinha acontecido: que Thor tinha sobrevivido à emboscada; que ele estava vivo e bem. Agora, aqueles homens se sentiam embravecidos corajosos, retornavam à Corte do Rei como uma força solidificada. Todos os planos de Gareth tinham ido por água abaixo e isso o deixou com um buraco no estômago. Ele sentiu o reino fechando-se sobre ele.

Gareth ouviu um rangido no quarto dele, ele girou e fechou os olhos rapidamente, invadido pelo medo diante da visГЈo.

“Abra os olhos, filho!” Disse a voz retumbante.

Gareth estava tremendo ao abrir os olhos, ele ficou horrorizado ao ver seu pai, ali com o aspecto de um cadáver, em decomposição, uma coroa enferrujada em sua cabeça e um cetro enferrujado na sua mão. Ele fitava Gareth com um olhar de repreensão, o mesmo olhar que ele lhe dirigira em vida.

“O sangue clamará por sangue.” Seu pai proclamou.

“Eu odeio você!” Gareth gritou. “EU ODEIO VOCÊ!” Ele repetia enquanto puxava um punhal de seu cinto e investia contra seu pai.

Quando ele chegou atГ© o pai para feri-lo, o punhal nГЈo golpeou nada alГ©m de ar e rolou pelo quarto.

Gareth virou-se, mas a aparição tinha ido embora. Ele estava sozinho no quarto. Ele havia estado sozinho o tempo todo. Será que ele estava perdendo a cabeça?

Gareth correu para o canto mais distante do quarto, vasculhou seu gabinete de vestir e extraiu o cachimbo de ópio com as mãos trêmulas; ele rapidamente o acendeu e inalou profundamente, vez após vez. Ele sentiu o calor da droga varrer seu sistema, sentiu-se perdido temporariamente na vertigem da droga. Ele havia estado consumindo ópio cada vez mais nos últimos dias. Isso parecia ser a única coisa que o ajudava a afastar a imagem de seu pai. Estar ali naquele lugar era um tormento para ele. Gareth estava começando a se perguntar se o fantasma de seu pai não estaria preso naquelas paredes e se ele não deveria mudar sua corte para outro lugar. Ele realmente gostaria de demolir o edifício. Aquele lugar retinha cada lembrança de sua infância que ele odiava.

Gareth voltou-se para a janela, coberto de um suor frio, ele enxugou a testa com as costas da mГЈo enquanto observava. O exГ©rcito se aproximava e Thor era visГ­vel mesmo a partir dali, as massas estГєpidas o rodeavam como a um herГіi. Isso fez com que ele ficasse lГ­vido, o fez ficar verde de inveja. Cada plano que ele tinha posto em marcha tinha resultado mal: Kendrick havia sido libertado; Thor estava vivo; atГ© mesmo Godfrey conseguira escapar do veneno, do veneno suficiente para matar um cavalo.

Por outro lado, seus outros planos tinham dado certo: Firth, pelo menos, estava morto e não havia nenhuma testemunha para provar que ele tinha matado seu pai. Gareth respirou fundo aliviado, percebendo que as coisas não eram tão ruins quanto pareciam. Afinal, a caravana dos Nevaruns ainda estava a caminho para buscar Gwendolyn, arrastá-la para algum canto horrível do Anel e casá-la. Ele sorriu ao ter esse pensamento, já começando a se sentir melhor. Sim, pelo menos ela estaria fora de suas preocupações em breve.

Gareth tinha tempo. Ele iria encontrar outras formas de lidar com Kendrick e Thor e Godfrey. Ele tinha mirГ­ades de planos malГ©ficos para matГЎ-los. E ele tinha todo o tempo e todo o poder do mundo para fazer isso acontecer. Sim, eles tinham ganhado essa rodada, mas eles nГЈo iriam ganhar a prГіxima.

Gareth ouviu outro gemido e virou-se, mas nГЈo viu nada no quarto. Ele tinha de sair dali, ele nГЈo podia aguentar mais.

Ele virou-se e saiu da sala, a porta foi aberta antes mesmo que ele a alcançasse, seus assistentes tinham sempre o cuidado de antecipar-se a todos os seus movimentos.

Gareth jogou o manto e a coroa de seu pai sobre siВ  pegou seu cetro e marchou pelo corredor. Ele desceu pelos corredores atГ© chegar a sua sala de jantar privada: uma cГўmara de pedra finamente construГ­da com altos tetos abobadados e seus vitrais coloridos, iluminados pela luz matinal. Dois atendentes aguardavam ao lado da porta aberta e outros ficaram esperando atrГЎs da cabeceira da mesa. Era uma mesa de banquete longa, com cerca de quinze metros de extensГЈo, dezenas de cadeiras estavam alinhadas a ambos os lados dela; o atendente puxou uma antiga cadeira de carvalho para Gareth enquanto ele se aproximava, era a mesma cadeira na qual seu pai tinha se sentado inГєmeras vezes.

Gareth estava sentado ali e percebia o quanto ele odiava aquela sala. Ele lembrou-se de ser forçado a sentar-se ali quando era criança com toda a sua família sentada ao seu redor, lembrou-se de ser repreendido por seu pai e sua mãe. Agora, a sala era profundamente solitária. Não havia ninguém ali, além dele, nem seus irmãos ou irmãs, pais ou amigos. Nem mesmo seus assessores. Ao longo dos últimos dias, ele tinha conseguido isolar todo mundo e agora ele jantava sozinho. Ele preferia que fosse assim, de todas maneiras. Muitas haviam sido às vezes em que ele tinha visto o fantasma de seu pai ali com ele e teria ficado envergonhado se chorasse na frente dos outros.

Gareth estendeu a mão, tomou uma colherada de sua sopa matinal e de repente bateu a colher de prata com força em seu prato.

“A sopa não está quente o suficiente!” Ele berrou.

Estava quente, mas nГЈo escaldante, como ele gostava e Gareth nГЈo toleraria mais um erro ao seu redor. Um atendente correu atГ© ele.

“Sinto muito, Majestade.” Disse o atendente, inclinando a cabeça e apressando-se para retirar o prato. Mas Gareth pegou o prato e jogou o líquido quente no rosto do atendente.

O atendente levou as mãos aos olhos gritando enquanto ele estava sendo escaldado pelo líquido. Gareth então pegou o prato, levantou-o bem alto, acima de sua cabeça e espatifou-o na cabeça do atendente.

O atendente gritou agarrando seu couro cabeludo sangrento.

“Levem-no embora!” Gareth gritou para os outros atendentes.

Eles olhavam com cautela, entГЈo obedeceram com relutГўncia.

“Mandem-no para as masmorras!” Gareth disse.

Gareth sentou-se tremendo, a sala estava vazia, exceto por um atendente que se aproximou de Gareth humildemente.

“Majestade.” Disse o atendente nervoso.

Gareth olhou para ele com uma raiva fervente. Quando ele olhou ao redor, Gareth pГґde ver seu pai, sentado ereto Г  mesa a algumas cadeiras de distГўncia, olhando para ele e sorrindo um sorriso maligno. Gareth tentou desviar o olhar.

“O lorde que Vossa Majestade convocou já chegou para vê-lo.” O atendente disse. “Lorde Kultin da província de Essen. Ele espera do lado de fora.”

Gareth piscou várias vezes enquanto começava a processar o que seu assistente estava dizendo. Lorde Kultin. Sim, agora ele se lembrava.

“Mandem-no entrar de uma vez.” Gareth ordenou.

O atendente fez uma reverГЄncia e saiu correndo do quarto, ele abriu a porta e por ela passou um enorme guerreiro de aspecto feroz, ele tinha longos cabelos negros, olhos negros frios e uma longa barba negra. Ele usava uma armadura completa e um manto, portava duas espadas longas, uma de cada lado de sua cintura. Ele mantinha as mГЈos descansando sobre ambas as espadas como se estivesse pronto para defender-se ou atacar a qualquer momento. Ele parecia raivoso, mas Gareth sabia que ele nГЈo estava. Lorde Kultin sempre tinha dado essa impressГЈo desde o tempo de seu pai.

Kultin caminhou pomposamente atГ© Gareth, ficou de pГ© prГіximo a ele e Gareth indicou-lhe um assento vazio.

“Sente-se.” Gareth disse.

“Eu ficarei de pé.” Kultin respondeu secamente.

Kultin franziu o cenho para Gareth e Gareth podia ouvir a força de sua voz. Ele sabia que este lorde era diferente dos outros. Ele era feroz, sedento de sangue, estava pronto para matar qualquer um e qualquer coisa ao menor aviso. Ele era exatamente o tipo de homem que Gareth queria por perto.

Gareth sorriu, sentindo-se satisfeito pela primeira vez naquele dia.

“Sabe por que eu o convoquei aqui hoje?” Gareth perguntou.

“Eu posso imaginar.” Kultin respondeu lacônico.

“Eu decidi promover você.” Disse Gareth. “Você vai ser promovido até mesmo sobre os Homens do Rei, será superior até mesmo ao Exército Prata. A partir de agora, você vai ser a minha guarda pessoal. A Elite do Rei. Você e seus quinhentos guerreiros terão a carne mais seleta, o alojamento mais confortável e o venerável Salão do Prata. Terão o melhor de tudo.”




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